31.1.10

Desemprego ameaça coesão social

José Paulo Silva, in Correio do Minho

O arcebispo primaz de Braga alertou entende que o aumento do desemprego, sobretudo entre os mais jovens, representa uma ameaça à coesão social. Ontem, à margem da audiência que concedeu a uma delegação da CGTP-IN, D. Jorge Ortiga constatou que o ‘drama do desemprego está a gerar insegurança social ’ e, particularmente, o aumento da criminalidade.

O arcebispo e uma delegação da ‘Intersindical’ liderada pelo secretário-geral Carvalho da Silva analisaram os problemas do desemprego e da pobreza durante um encontro que durou uma hora.

D. Jorge afirmou que os políticos deveriam ‘concentrar-se na solução dos problemas graves que atingem a sociedade portuguesa: o desemprego que gera pobreza e insegurança’, ressalvando que ‘não é missão da Igreja apresentar soluções técnicas para os problemas de índole social’.
Carvalho da Silva foi mais concreto, defendendo que ‘o investimento deve ser orientado para a criação de emprego’ e que a acção governativa não se deve limitar a ‘despejar dinheiro para entidades sem controle e fiscalização’.

O líder da CGTP-IN disse ter ficado chocado com o ‘orgulho’ do ministro das Finanças ao afirmar que o Estado ‘reduziu muito o emprego nos últimos anos e que vai continuar a reduzir mais’
‘A Organização Internacional do Trabalho sugere que não se chame saída da crise a uma recuperação económica que não crie trabalho e emprego. O emprego tem que ser criado no sector público e privado’, contrapôs Carvalho da Silva.
Na audiência com os dirigentes da CGTP-IN, o arcebispo e presidente da Comissão Episcopal Portuguesa lembrou que ‘há determinados direitos fundamentais consagrados na Constituição como o direito ao trabalho e à habitação que deveriam preocupar os nossos governantes.
Todos os cidadãos deveriam usufruir desses direitos e isso não acontece’.

Carvalho da silva responde a vítor constâncio: 'Redução do défice é propaganda'

O secretário-geral da CGTP-IN classificou como ‘propaganda’ a declaração do governador do Banco de Portugal sobre a necessidade de prosseguir com a política de combate ao défice.
Um dia após Vítor Constâncio ter confessado a sua surpresa com o valor do défice (9,3%) registado em 2009 e ter ter defendido ‘um grande esforço do Governo para baixar este valor’, Carvalho da Silva respondeu que, ‘em vez de se andar a fazer essa propaganda, o que é importante é mobilizar a sociedade para a melhor justiça na distribuição da riqueza, a moralização da acção governativa e a gestão das empresas’.

O governador do Banco de Portugal considera que a proposta de Orçamento do Estado para 2010 mostra que os próximos anos vão ser mais difíceis do que o que estava previsto.
Segundo Carvalho da Silva, ‘é preciso voltar para a criação de emprego e para o trabalho produtivo. Reduzir mais não ajuda’.

Na audiência com o arcebispo de Braga, o sindicalista defendeu que ‘o salário não pode ser visto como mero subsídio de sobrevivência, tem que ser o valor da riqueza das pessoas’, e que ‘a contratação colectiva foi, no século XX, o instrumento mais importante de acerto da distribuição da riqueza’, havendo hoje ‘muitos trabalhadores jo-vens’ que não beneficiam deste direito.