26.1.10

Mais de cem exames por mês por crimes sexuais

por Sónia Simões, in Diário de Notícias

Em 2009 foram feitas 1270 perícias, das quais 60% a crianças até 14 anos


Em 2009, o Instituto Nacional de Medicina Legal (INML) fez 1270 exames a alegadas vítimas de crimes sexuais, 60% das quais crianças, uma média de mais de 100 perícias todos os meses. Entre estas vítimas estão pelo menos oito, seis que terão sido atacadas pelo "violador de Telheiras", o homem procurado pela polícia há mais de dois anos, e duas, atacadas pelo "violador de Benfica", detido há duas semanas.

O número de perícias está longe do de casos de violação investigados pela Polícia Judiciária. Só quando as suspeitas se confirmam é que o processo transita para investigação. Os dados de 2009 ainda não foram publicados, mas a PJ comunicou durante o ano a detenção de 56 violadores, enquanto em 2008 foram detidos 33.

A estatística do INML relativa a 2009 também ainda não trabalhou a informação das vítimas. Mas, em 2008, mais de 60% dos 1308 exames médicos eram relativos a vítimas menores de 14 anos. "O processo Casa Pia causou grande alarme social e qualquer sinal sus- peito, até uma pequena mancha de sangue numa fralda, desperta suspeições", refere ao DN Duarte Nuno Vieira, responsável pelo INML. Em relação aos adultos, o número de perícias é bem menor, não passando os 25% do volume. "Revelam os estudos que 50 a 90% dos casos de violação em Portugal e noutros países não chegam ao conhecimento público, muito menos a perícias", explica Duarte Nuno Vieira. As chamadas cifras negras são, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna, muito maiores nos crimes sexuais. A explicação mais simples é o facto de ser "um crime estigmatizante, porque se critica e se pensa que se não saísse não teria sido violada, e todo o processo que se segue", refere Duarte Nuno.

Apesar do aumento de detenções, a PJ e a PSP continuam a procurar o homem que já fez seis vítimas em Telheiras, Lisboa. Uma delas foi notícia por ter esperado horas no Hospital de Santa Maria por um médico que lhe fizesse os exames. As poucas características fornecidas pelas vítimas apontam, segundo fonte da PSP, para um homem entre os 20/30 anos, alto, moreno, magro e cabelo rapado. "Deve ser primário e os indícios são poucos. Este violador pede sempre sexo oral ou que o masturbem. Depois ejacula para o chão e limpa tudo para não deixar vestígios", diz fonte policial. Chega a pedir às vítimas lenços para deixar o local do crime o mais limpo possível. O suspeito espera as vítimas à entrada dos prédios e ataca-as sob ameaça de faca. Depois fica meses sem atacar. "A opção por determinados tipos de comportamentos sexuais pode estar relacionada com factores de estimulação sexual; com a sua competência sexual ou com factores situacionais como não ser apanhado a cometer um acto mais prolongado", explica a psicóloga da PJ, Cristina Soeiro.

A psicóloga traçou quatro perfis de violadores(ver texto ao lado). De sublinhar que as vítimas destes predadores sexuais tinham entre os 12 e os 76 anos. "Os agressores seleccionam as vítimas com base em critérios de oportunidade", frisa.