27.1.10

Mais de metade das famílias sem dinheiro para a saúde

Por Catarina Gomes, in Jornal Público

Seis em cada dez famílias sentiram dificuldade em seguir tratamentos médicos devido a problemas financeiros durante o ano passado, revela um inquérito da Deco - Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor a 1639 famílias portuguesas.

A ministra da Saúde escusou-se a comentar o estudo, mas admitiu "algumas desigualdades de acesso" à saúde. Ana Jorge adiantou ainda que são precisamente essas desigualdades que têm levado o Governo "a introduzir alterações no sistema".

Segundo o estudo da Deco, quase metade daqueles agregados foi obrigado a adiar uma terapia, um quinto interrompeu-a e outros tantos nem ponderaram iniciá-la, por impossibilidade de pagar. Nas últimas condições estão 650 mil famílias (cerca de 40 por cento dos inquiridos).

Os lares com baixos rendimentos, os que incluem apenas um adulto e crianças menores e os que integram doentes crónicos são os que manifestam mais problemas em suportar os custos. Um quinto já se endividou para despesas de saúde e 15 por cento fizeram-no no último ano. Cada agregado pediu, em média, 1100 euros, sobretudo, a familiares. Quatro em cada dez revelaram muitas dificuldades em liquidar a dívida. Grande parte dos créditos destinou-se a serviços de saúde privados, muitos deles também existentes no SNS. Mas as longas listas de espera determinaram a decisão pelo privado. O estudo mostra ainda que sete em cada dez famílias gastam uma média de 1700 euros por ano do seu bolso em saúde, o que representa, em média, cerca de um quinto do rendimento anual líquido. A maior fatia das despesas é absorvida pelos cuidados dentários e oftalmológicos.