26.1.10

Voluntariado em português no Bangladesh

Eduarda Ferreira, in Jornal de Notícias

Maria Conceição ganhou prémios de prestígio pela sua acção humanitária


Foi tocada pela miséria de outros e quer pôr-lhe fim. Maria Conceição tomou em mãos um bairro desprovido de tudo depois de uma passagem profissional pela capital do Bangladesh. Esta portuguesa já ganhou prémios de prestígio pela sua acção humanitária.

Tem aspecto frágil e determinado. Entusiasma-se quando fala do Dahka Project, que nasceu há cinco anos da sua entrega a um objectivo: minorar a miséria de crianças de uma comunidade desprovida de tudo, dando-lhes mais condições de higiene, saúde e educação. Este sonho arrojado começou por ter apenas parte do seu ordenado como garantia. Depois, Maria Conceição, nascida em Vila Franca de Xira, há 32 anos, e tendo no Dubai o seu ponto de rotação como assistente de bordo, começou a recolher doações em bens, sobretudo de higiene. No começo, os bens doados em roupa eram vendidos para obter verbas. Agora, o seu projecto apoia 600 crianças no bairro de Korail e emprega cem pessoas da mesma comunidade. O resto é trabalho esforçado de voluntários do mundo inteiro.

A lógica do Projecto Dhaka é dar mais condições de vida, incluindo as ambientais, às crianças de um meio miserável, em que a infância costuma ser passada em trabalho duros. Dar escola, ter um posto de primeiros socorros, ajudar as mães a ter uma fonte de rendimento como a costura, todos estes são passos pensados e postos no terreno por Maria Conceição. "Cheguei à conclusão de que aquelas crianças tinham um potencial enorme, mas não tinham oportunidades", assim recorda o grande embate ao visitar os arredores de Daca. Há ali um trabalho desmedido e difícil a fazer e, aos poucos, há resultados. Tudo é difícil, até ter vacinas doadas por vários países e encontraram todo o tipo de obstáculos para conseguir das autoridades daquele país um boletim que atestasse por alguma forma a identidade das crianças.

Maria Conceição tem a energia dos dinamizadores e transmite-a . Garante que é exigente com os voluntários e reconhece que, indo uma vez por mês a Daca e tendo já lá passado dois meses, aquelas circunstâncias são tão dramáticas que "se tem que sair para respirar e recarregar baterias". Na capital do Bangladesh ,outra iniciativa de Maria está a pôr crianças a ensinar inglês aos pais e a dinamizar a comunidade de Gawair para a limpeza das casas e vielas. A esta acção, a fundadora deu o nome de The Catalist.

Agora, Maria Conceição tem em mente outro projecto, esse no Brasil, provavelmente no Nordeste. Será um orfanato capaz de se auto-sustentar com a exploração de uma unidade hoteleira de praia.

A vida pessoal de Maria é assim: "Já tenho tantos filhos e afilhados. Tenho um namorado que está a tentar casar e ter filhos, mas há tanto trabalho em Daca! Quem sabe haja alguém para continuar a chama".