23.2.10

Dentes envergonham 11% por causa da aparência

Eduarda Ferreira, in Jornal de Notícias

Portugueses são dos europeus que menos visitas regulares fizeram ao dentista no último ano


Os últimos números sobre saúde e higiene dentária dos europeus fornecem um retrato pouco sorridente da boca portuguesa, apesar de revelarem escassa adesão a hábitos que contribuem para a cárie. Mas a nossa realidade aproxima-se dos países do Leste.

Em média, 57% dos europeus fazem uma visita anual ao dentista, segundo os resultados de um inquérito ontem publicado num Eurobarómetro especial. No que respeita aos portugueses, a fasquia baixa para os 46% . Mas é noutros aspectos que se marca maior distância face à maior parte dos parceiros. Por exemplo, 11% de entre nós confessam ter-se sentido embaraçados por causa do aspecto da sua dentição. A média europeia fica nos 7% e nós encontramo-nos num grupo dos mais envergonhados juntamente com a Roménia, Lituânia ou Grécia. Esta situação restringe até a participação em conversas e actividades de convívio.

Um aspecto que distância os portugueses, pela positiva, refere-se a alguns hábitos: estamos entre aqueles que menos intervalam as refeições com bolachas, doces ou refrigerantes e afirmamos ser dos que mais fruta consomem no seu estado natural. Neste último indicador, somos mesmo os primeiros, a par da Hungria (71%, quando a média europeia é de 62%).

Verdade conveniente

O bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, ouvido pelo JN, admite que os resultados deste Eurobarómetro "se aproximem da realidade", ainda que "a memória possa atraiçoar as pessoas pela positiva". Ou seja: se 46% dos inquiridos disseram ter ido a uma consulta no último ano, tal poderá ter acontecido antes desse prazo. Além do mais, "apesar do padrão não ser igual para todas as pessoas, o aconselhável é uma visita ao dentista de seis em seis meses".

De acordo ainda com Orlando Monteiro da Silva, o facto de menos de metade dos portugueses terem procurado cuidados dentários num ano relaciona-se com a dificuldade de acesso, por razões económicas, pelo desconhecimento da importância da saúde dentária na saúde em geral e qualidade de vida e ainda por algum receio que persiste.

Quando questionados sobre o número de dentes naturais que ainda mantêm, os portugueses têm uma realidade bastante mais pobre que a média europeia. Apenas 32% afirmaram possuir a sua dentição natural na totalidade, bem longe dos 57% verificados nos países nórdicos. Sobre estes dados, o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas confirma que em Portugal "a percentagem de edentolismo (pessoas desdentadas) é muito grande, sobretudo acima dos 65 anos". Nesta faixa etária, mais de 80% das pessoas não têm um dente na boca.

Esta "não é uma situação que melhore de um dia para o outro", salienta o bastonário, que concorda com que "a aposta estratégica seja nas crianças", em termos de prevenção, educação e informação. Os cheques-dentista, acrescenta Orlando Monteiro da Silva, cumprem uma parte do papel.

Os cheques-dentista, que começaram a ser atribuídos em Junho de 2008 a grávidas e idosos que recebem o complemento solidário, alargaram-se há quase um ano a crianças com 7, 10 e 13 anos e vão no próximo mês a abranger as de 8, 11 e 14 anos, passando em Setembro a poder ser utilizados pelas crianças de 9, 12 e 15 anos. Segundo disse ao JN o coordenador do Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral, Rui Calado, foram até agora emitidos 439 mil cheques-dentista para os grupos beneficiados. Destes, 11.300 são idosos e quase 60 mil grávidas.