21.2.10

Governo e IEFP prometem uma descida do desemprego desde 2008

Por João Ramos de Almeida, in Jornal Público

O que espera que um político diga quando a taxa de desemprego sobe? Sim, sobe, mas vai já estabilizar, a economia reanima e as medidas vão fazer efeito


Cada número do desemprego tem sido um recorde. Mas a fazer fé nos políticos, cada recorde será sempre o último. Pelo menos é o que se conclui do exercício do PÚBLICO a partir de artigos publicados desde meados de 2008, quando o desemprego subiu.

Em Abril de 2008, surgiram os primeiros números negativos. Uma subida de 21,5 por cento nos novos desempregados inscritos nos centros de emprego. E voltou a repetir-se em Junho e Julho. A OCDE tornou-se mais pessimista e o ministro do Trabalho Vieira da Silva, admitiu ser difícil - mas não impossível - atingir a meta de 150 mil novos postos de trabalho.

Em Agosto de 2008, era visível a inversão na tendência dos novos desempregos, mas o IEFP assinalava antes o recuo do desemprego registado. Recuava, mas a taxas cada vez menores. E o presidente do IEFP, Francisco Madelino, falava de números ainda "instáveis". "A pressão negativa aligeirou-se em Julho", disse. E Vieira da Silva notava que os "indicadores convergem para uma melhoria do mercado de trabalho".

No terceiro trimestre de 2008, os números do INE davam, pela primeira vez, uma quebra do emprego (0,6 por cento) e uma subida do desemprego (5,8 por cento). Em Setembro e Outubro de 2008, os do IEFP confirmaram-nos. O presidente do IEFP já reconhecia que a crise afectara o mercado de trabalho, mas que "a estabilização da redução dos desempregados não se deverá alterar até ao final do ano". Face à pressão parlamentar, Vieira da Silva - como se escreveu no Correio da Manhã - "recusou a existência de dados que apontem para o agravamento drástico do desemprego em 2009".

E deu-se a enchente. Nos primeiros dois meses de 2009, entraram quase 130 mil novos desempregados. Mas os dados do INE do último trimestre de 2008 criaram confusão. A taxa de desemprego aumentou apenas uma décima entre o 3.º e o 4.º trimestres (de 7,7 para 7,8 por cento). José Sócrates qualificou os números de "animadores", um sinal de que, "apesar de tudo, a nossa economia continua a progredir e a criar emprego". Mas Vítor Constâncio, governador do banco central, previu um agravamento.

É em Fevereiro de 2009 que o Governo apresenta o pacote Iniciativa Emprego 2009. O desemprego passa a ser a prioridade. No final de Março, as jornadas parlamentares do PS faziam eco disso. "O problema mais sério que temos pela frente é o risco de tensões que podem ser geradas pela crise", afirmou o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos. "Tempos difíceis", alertava Vieira da Silva.

No 1.º trimestre, o INE deu-lhes razão. A taxa de desemprego saltou de 7,8 para 8,9 por cento entre o 4.º trimestre de 2008 e o 1.º de 2009. Mas, dias depois, Vieira da Silva renegou as previsões do FMI de que a taxa de desemprego chegasse aos 9,6 por cento em 2009 e aos 11 por cento em 2010. Tudo porque a economia estaria a reanimar. E, em Maio, o ministro das Finanças garantiu que a crise era menos negativa para o emprego do que a de 2003. Já Constâncio alertava: "Não vamos sair disto facilmente".

Em Junho, o presidente do IEFP viu a luz. "Podemos estar perante os primeiros sinais positivos do mercado de trabalho". Porquê? O desemprego registado descera 0,1 pontos percentuais. Mas a conjuntura não mudara. Dias depois, o Eurostat anuncia a taxa recorde de 9,3 por cento em Abril de 2009, a quarta da zona euro. Meio milhão de desempregados. Vieira da Silva previu que "nos próximos meses seja melhor, sem querer dizer que já serão de viragem".

Em Julho, novo recorde. Madelino viu a estabilização. "Quer no mês passado [Maio], quer este mês [Junho], os dados dão uma estagnação do crescimento do desemprego". A OCDE prevê uma taxa de dois dígitos em 2009, mas Vieira da Silva contesta. "É possível que isso aconteça. Mas (...) o risco de atingirmos esses valores [ 10%] ficou agora mais afastado."

Em Setembro, Madelino recorda 2008 e frisa que afinal se esteve "à beira de uma catástrofe". Se "não é expectável" uma descida em 2009, vai diminuir em 2010. Mas previu que não aumentaria em Setembro. "Já foi feito um ajustamento radical."

Azar. Em Outubro, o INE revela a quebra acentuada do emprego (menos 1,2 por cento) e uma das maiores subidas na taxa de desemprego num trimestre (de 9,1 para 9,8 por cento). Comentário do Madelino: o desemprego "tem vindo a estabilizar, embora em Setembro tenha voltado a crescer, o que é normal tendo em conta a existência de menos actividades sazonais".

Dezembro. O desemprego registado já vai em 523 mil. Madelino admite uma diminuição ainda em 2010. Em Janeiro, a nova ministra Helena André vê a quebra de 1,5 por cento entre Dezembro e Novembro de 2009 como "uma franca redução", a "recuperação" à vista. Mas em Fevereiro, o INE libertou os dados de 2009 - a taxa de desemprego situou-se em 10,1 por cento no 4.º trimestre. A maior de sempre, com tendência para subir.

Esperam-se, pois, novos "episódios" na "novela" dos comentários, até que haja um discurso político condizente com a realidade.