27.3.10

70% dos desempregados colocados pelos centros de emprego têm contratos a prazo

Por Raquel Martins, in Jornal Público

Construção civil, segurança e vendas são as áreas onde os desempregados conseguem trabalho com mais facilidade


Os centros de emprego conseguiram, no ano passado, arranjar trabalho a mais pessoas, mas a esmagadora maioria dos empregos oferecidos é com contratos a prazo e pouco qualificados. De acordo com os dados solicitados pelo PÚBLICO ao Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), dos 57.048 desempregados que conseguiram voltar a entrar no mercado de trabalho com a ajuda dos serviços públicos de emprego, 70 por cento tinham contrato a termo e apenas 30 por cento entraram directamente para os quadros das empresas.

Francisco Madelino, presidente do IEFP, considera que o único dado extraordinário nestes números é o facto de 30 por cento dos desempregados conseguirem um contrato definitivo num contexto em que as empresas tendem a privilegiar os contratos a prazo, quando se trata do primeiro emprego.

As colocações feitas pelos centros do IEFP acabam por reflectir também a forma como o mercado de trabalho tem evoluído. Do final dos anos 90 para cá, os contratos a prazo têm vindo a ganhar peso na estrutura do emprego. Em 1998, 82,4 por cento dos trabalhadores por conta de outrem tinham contratos permanentes e 17,6 por cento estava a prazo. No ano passado, embora os trabalhadores com vínculo permanente continuem a ser a maioria, o seu peso no total caiu para 77,3 por cento, enquanto os contratos a prazo já representam 22,7 por cento dos empregados por conta de outrem.

Apesar dos efeitos da crise económica, no ano passado, o IEFP conseguiu aumentar (0,6 por cento) o número de desempregados colocados nas empresas. Contudo, as 57.048 pessoas que voltaram ao mercado de trabalho representam apenas 8,3 por cento dos 690 mil desempregados que passaram pelos centros de emprego ao longo de todo o ano.

As autocolocações continuam a ser a principal via para os desempregados saírem da situação em que se encontram. Mais de 140 mil pessoas (20 por cento do total) comunicaram ao IEFP que conseguiram arranjar trabalho devido a diligências próprias e sem intervenção dos serviços públicos.

Trabalhar por 550 euros

À semelhança do que tem acontecido nos últimos anos, os desempregados que consequem voltar a trabalhar por intermédio dos centros de emprego vão ganhar em média 550 euros por mês - embora o presidente do IEFP garanta que nalguns casos o salário é negociado e acaba por ser mais elevado - em profissões pouco qualificadas.

Os serviços de segurança, a construção civil e o sector das vendas receberam quase metade dos que voltaram ao mercado de trabalho. Curiosamente estas são as profissões com maior incidência de desemprego, sinal de que há uma elevada rotatividade dos trabalhadores.

O Norte, uma das regiões mais afectadas pelo desemprego, liderou nas colocações, seguindo-se o Centro e Lisboa. Já o Algarve foi a região onde o mercado de trabalho se mostrou menos dinâmico.

Os dados do IEFP revelam ainda que, no ano passado, os desempregados que conseguiram colocação permaneceram 4 meses e seis dias nas listas até regressarem à vida activa, sendo que metade conseguiu trabalho nos três primeiros meses.