27.4.10

Aposta no mar e na criatividade do Norte já está a avançar

Por Inês Sequeira e Nuno Simas, in Jornal Público

As prioridades apontadas por Cavaco Silva não são novidade, mas estão ainda no início. Protagonistas agradecem visibilidade externa


As duas "novas oportunidades" para ajudar Portugal a sair da crise a que o Presidente da República se referiu no discurso do 25 de Abril não são novidades. A aposta tanto nas potencialidades do mar como nas indústrias criativas do Norte (ver texto ao lado) é uma realidade que já está estudada e já tem estruturas próprias para a sua promoção e desenvolvimento. Mas o discurso presidencial foi bem recebido nos dois casos, sobretudo pela visibilidade externa que lhes proporcionam.

O mais importante para a criação de uma verdadeira economia do mar em Portugal "está em começo de execução", defendeu ontem Ernâni Lopes, economista e presidente da consultora SAER, que há menos de um ano realizou um extenso estudo sobre a estratégia que o Governo e as empresas devem seguir para tirar proveito dos recursos marinhos, para o qual recebeu o apoio da Associação Comercial de Lisboa.

Em causa está a formação de um fórum empresarial para a economia do mar, que vai ser apresentado publicamente esta quinta-feira e será presidido pelo presidente da Associação Comercial de Lisboa, Bruno Bobone - que é também presidente do grupo Pinto Basto, ligado ao transporte marítimo de mercadorias. Deste fórum irão fazer parte várias empresas que estão ligadas aos recursos marítimos em diferentes áreas, incluindo a parte energética, os transportes marinhos e o turismo.

Vai ser este novo Fórum Empresarial da Economia do Mar, que Ernâni Lopes espera que esteja operacional dentro de um mês, que será o "novo quadro de articulação de estratégias das empresas portuguesas [ligadas à economia do mar] entre si e entre estas empresas e o Estado", salientou o mesmo responsável. "Não estamos a falar apenas de mais uma associação", sublinhou o também antigo ministro das Finanças.

O estudo apresentado em 2009 identificou um leque de sectores nos quais o país pode diferenciar-se. "Temos uma noção profunda de que esta pode ser uma das vias para o futuro da economia portuguesa", defende o responsável da SAER.

As oportunidades a explorar são muitas: desde o aproveitamento do potencial dos desportos náuticos e do mar enquanto pólo de actividades turísticas, passando pelas energias renováveis e também pela importância dos portos e da logística marítima para o comércio internacional.

O estudo da SAER prevê também que, se forem aplicadas as medidas preconizadas, o conjunto de actividades (clusters) incluídas num futuro hypercluster da economia do mar pode ter um peso directo de quatro a cinco por cento no PIB por volta de 2025, ou seja, cerca do dobro do actual.

Ao nível dos efeitos indirectos, o peso seria de dez a 12 por cento, além de poder criar novos postos de trabalho, e até mais qualificados, além dos cerca de 75 mil que existem hoje.

Cavaco: mar e conciliação

Ontem, no Governo repetiam-se as frases de José Sócrates à saída da sessão no Parlamento - que o discurso presidencial é inspirador para a acção política. Mas junta-se um outro dado. O executivo pode não ter definido o mar como prioridade política, mas tem "obra" feita, como é o caso da reestruturação portuária.

Os efeitos das palavras de Cavaco Silva na sessão de domingo no Parlamento são, assim, suavizados, comparando com outras intervenções. Como a do 25 de Abril de 2007, dois anos após a eleição e quando o PS ainda tinha maioria absoluta, e em que o Presidente pediu ao executivo que fizesse reformas de fundo.

Entre os dois maiores partidos, há uma leitura comum: além da conjuntura de crise, pouco propícia a conflitos, também há o calendário presidencial de Cavaco, a poucos meses das eleições de 2011. Foi, aliás, o próprio presidente do Parlamento, Jaime Gama, a chamar a atenção para a questão, ao defender que se faça "um grande debate" na campanha para as presidenciais.