19.5.10

Desemprego: 105 mil portugueses ficaram sem trabalho num ano

Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias

Os dados oficiais atiram para 592 mil o número de pessoas sem trabalho, um recorde de várias décadas. Mas o desemprego real, que abrange os a tempo parcial à força e quem já desistiu de encontrar trabalho, é mais negro: 730 mil, mais cem mil no espaço de um ano.

Qualquer que seja a forma como se olha para o desemprego, ele está em níveis históricos. Mesmo que o número de inscritos nos centros de emprego tenha descido em Abril face a Março (continuando bem acima do mesmo mês de 2009), a taxa de desemprego tinha subido, no primeiro trimestre, para 10,6%. No Norte, disparou para 12,5% e, pior ainda, para 13,6% no Algarve, que continua a sofrer com o encerramento de aeroportos dos Norte europeu (origem da grande maioria dos turistas), devido o vulcão islandês.

Mas uma leitura mais abrangente do desemprego, feita pelos sindicatos, inclui as pessoas que, por qualquer razão, não procuram emprego (por exemplo, por acharem que já não vale a pena); e as que trabalham só algumas horas por dia, por não conseguirem encontrar trabalho a tempo inteiro. São casos de sub-emprego, ou de desemprego por desistência, que têm vindo a ganhar peso, sobretudo entre as mulheres.

Outro aspecto dos dados ontem revelados pelo Instituto Nacional de Estatística é o desemprego de longa duração, relevante porque quanto mais tempo as pessoas ficam fora do mercado de trabalho, mais difícil é conseguirem voltar. No primeiro trimestre, mais de metade dos desempregados era-o há mais de um ano e, destes, mais de metade estava há mais de dois anos sem trabalhar.

Norte tem 247 mil sem trabalho

Se o Algarve e Norte mostram um cenário negro, já no resto do país as cores são mais leves. Lisboa conta com uma taxa de desemprego de 10,5%, abaixo da alentejana (11,1%), mas acima da do Centro e das regiões autónomas - todos com valores inferiores a 8%.

Mas por detrás dos números há pessoas: quase um quarto de milhão no Norte. Nesta região, mais de metade dos desempregados está fora do mercado de trabalho há mais de um ano; trabalhava na indústria; é mulher e tem entre 15 e 44 anos de idade; e dois em cada cinco tem, no máximo, o 9.º ano de escolaridade.

Ter pouca escola, e pouca formação técnica, estende-se aliás a quem ainda tem emprego. A Norte, dois terços dos trabalhadores tem, no máximo, a escolaridade mínima e são precisamente estas pessoas que estão a ver o emprego desaparecer.

Também em formas "menores" de trabalho se distingue a região Norte: dos 105 mil novos excluídos do mercado de trabalho do último ano, 75 mil vivia a Norte.

É este o cenário regional, num país em crise, à espera do fim das medidas de apoio criadas em 2008 (e boa parte renovada já este ano) e da entrada em vigor do aumento dos impostos.

Hoje, o primeiro-ministro, José Sócrates, e a ministra do Trabalho e da Solidariedade Social, Helena André, vão explicar o fim das medidas aos parceiros sociais, ditado em nome da correcção das contas públicas.