20.5.10

Quem deu conta do Dia da Europa?...

in Jornal A Guarda

O dia 9 de Maio é celebrado, no contexto europeu, como Dia da Europa. Trata-se de um Dia que pretende chamar a atenção para a construção europeia com os caminhos já percorridos e a percorrer procurando conciliar, num todo coerente, o passado, o presente e o futuro. E se este dia tem sempre a conotação de reforço da coesão entre os diferentes estados membros, neste ano denominado pelo Parlamento Europeu de Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social, essa procura de coesão surge reforçada tentando contrariar um dos grandes paradoxos e escândalos da União Europeia: a pobreza e a exclusão social.

Numa Europa que está longe de ser de todos e para todos em virtude das desigualdades que nela ainda se fazem sentir, impõe-se reflectir sobre um território onde se contam cerca de oitenta milhões de europeus que vivem em situação de pobreza e exclusão social, dos quais cerca de dois milhões são portugueses.

Para tal, requer-se um envolvimento activo de todos os agentes sociais, desde os decisores políticos, passando pelos mais diversos membros dos sectores sociais, até aos próprios pobres, os quais muitas vezes se encontram à margem de um processo de afirmação, na primeira pessoa, da sua dignidade humana.

Neste cenário, quem deu conta do Dia da Europa?... O facto deste Dia da Europa, no corrente ano, ter acontecido a um Domingo, será que teve alguma manifestação a nível de locais de culto? Será que a proximidade da visita do Papa a Portugal ofuscou tal efeméride e temática? Será que os pobres e excluídos desta nossa Europa tiveram alguma atenção especial? Será que os problemas sociais de tantos concidadãos europeus nossos beneficiaram de algum contributo visando a sua minoração ou resolução?

Perante o “escândalo” da pobreza na Europa que afecta, sobretudo, idosos, crianças, e trabalhadores sem rendimentos suficientes para ter a devida dignidade assegurada, momentos como este deveriam ajudar a uma maior consciencialização social e à procura de pequenas grandes respostas para os problemas diagnosticados. Assim se poderia fazer com que o Dia da Europa não fosse apenas mais um simples dia mas a celebração de uma data capaz de fazer alguma diferença na vida daqueles que gritam por melhores condições de dignidade humana.

Seja como for, apesar de já estarmos no mês de Maio de 2010 e de já ter passado o Dia da Europa, ainda nos restam cerca de seis meses para a vivência de um Ano Europeu que, em tempo oportuno, foi apelidado de Combate à Pobreza e Exclusão Social e se traduz numa Oportunidade, não só para os pobres e excluídos sociais mas para todos os europeus. Isto é, se não nos distrairmos…
paulo.neves@caritas.pt