15.7.10

Ernâni Lopes antevê riscos de nova recessão na Europa

Por Ana Tavares, in Jornal Público

O relatório mensal da SaeR (Sociedade de Avaliação Estratégica e Risco), ontem divulgado, considera que a Europa vive um período "conturbado e perigoso" e alerta mesmo para a possibilidade de o continente voltar a entrar em recessão, "em especial se for detonada por uma crise cambial".

De acordo com o relatório, a crise que a Europa vive é perigosa inclusive para a própria unidade política, com a moeda única a ser colocada em causa. Para a SaeR, "a existência de uma moeda única dificulta a organização de uma resposta comum para o problema, visto não haver uma política orçamental e poder comuns".

Em relação à evolução da economia, o relatório adianta que o crescimento chinês, bastante superior ao previsto para a União Europeia, poderá "significar diversos cenários, como, por exemplo, uma recessão em W, em especial se for detonada por uma crise cambial - a implosão do euro, por exemplo", escrevem Ernâni Lopes e José Poças Esteves.

O documento destaca ainda que "o perigo de balcanização europeia existe e é delicado para Portugal, que enfrenta as condicionantes geográficas de apenas ter fronteiras terrestres com Espanha, um dos estados em risco de desintegração política".

De acordo com o relatório, no caso específico português existia já uma crise própria, que foi amplificada pelos choques entre a crise americana e europeia, o que forma "uma crise de intensidade e efeitos inéditos". Portugal não consegue neste momento encontrar pontos de apoio no exterior para criar políticas de recuperação.

Ernâni Lopes defendeu a criação de "mecanismos inovadores de reconfiguração da dívida". Para o ex-ministro das Finanças, a actual crise "mostrará, ou já está a mostrar, as vicissitudes do chamado "modelo social europeu" mas, sobretudo, a consequente necessidade de o alterar profundamente para que possa sobreviver".

Na opinião de Ernâni Lopes, é urgente tomar medidas exigentes para reduzir o excesso de despesa. Para isso, só existem duas vias: por um lado, "um aumento dramático dos impostos, e outra, que é a que eu prefiro, que é reduzir os rendimentos como fez a Irlanda". Ernâni Lopes reafirma assim a sua proposta de reduzir 15 a 20 por cento o rendimento dos funcionários públicos.