15.7.10

Pobreza: estatísticas diferem da realidade

in Agência Ecclesia

Responsáveis de instituições de apoio social criticam últimos números do Instituto Nacional de Estatística


Responsáveis de instituições de defesa dos direitos humanos e apoio social consideram urgente criar condições que permitam uma análise mais actual à situação de crise no país e às necessidades das pessoas.

Esta é a principal reacção, recolhida pela Agência ECCLESIA, aos últimos dados apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), relativos ao “Inquérito às Condições de Vida e Rendimento”.

Segundo o presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), Alfredo Bruto da Costa, “estes dados não acrescentam nada, em termos de políticas imediatas de combate à crise que o país atravessa, porque estão desactualizados”.

Já o presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio da Fonseca, lamenta que “não se usem e trabalhem os dados recolhidos por instituições como a Segurança Social, que todos os dias recolhe informação junto das pessoas mais necessitadas”.

O inquérito do agora tornado público foi feito em 2009 e tem por base os rendimentos das pessoas em 2008. Nele está expresso que, à data desse levantamento, 17,9 por cento dos portugueses viviam em situação de pobreza, uma realidade que afectava sobretudo desempregados e idosos.

Os dados do INE mostram ainda que o risco de pobreza desceu 0,6 por cento no nosso país, face ao ano anterior.

Alfredo Bruto da Costa afirma que os dados correspondem a uma altura em que a crise mundial ainda estava no início: “É de notar que nenhum país da União Europeia possui um inquérito através do qual se consiga saber os efeitos da crise”.

Bruto da Costa defende que, relativamente ao nosso país, “o INE deveria fazer inquéritos anuais, às receitas e despesas das famílias, de forma mais expedita”, fornecendo assim dados mais ajustados à realidade actual.

Olhando para os números, aquele responsável desvaloriza a diminuição de 0,6 por cento, da taxa de pobreza no nosso país.

Realça sim, com preocupação, o facto de “se a taxa de pobreza em Portugal continuar a descer desta forma, tão insignificante, quando chegarmos a 2015, ano de referência para os objectivos do milénio, essa taxa vai-se situar nos 15 por cento, o que ainda é elevado para um país europeu”.

O presidente da CNJP admite, contudo, que “apesar de a informação agora divulgada pelo INE estar com um ano e meio de atraso”, permite ver que “faltam medidas mais justas e equitativas, na distribuição dos recursos”.

Apontando Portugal como o “país da Europa onde o fosso entre ricos e pobres mais se faz sentir”, Eugénio da Fonseca revela um dos motivos que estão na base desta realidade.

“Há pessoas que acumulam determinadas prestações sociais com pensões de reforma, o que não se justifica, impedindo que essas verbas sejam canalizadas para pessoas mais necessitadas”, indica o presidente da Cáritas Portuguesa.

A organização católica defende ainda que o Estado deveria investir na criação de mais postos de trabalho, promovendo um desenvolvimento efectivo do país, a começar pelas áreas mais carenciadas.