26.7.10

Políticos recusam ajuda com salário

Por:Cristina Rita/Isabel Ramos, in Correio da Manhã

Alguns políticos cristãos não acolheram bem o apelo do bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, D. Carlos Azevedo, para que doem vinte por cento do salário a um fundo social destinado aos pobres.

A deputada eleita pelo PS Teresa Venda, por exemplo, assumiu ao CM discordar da sugestão: "Pode-se resolver o problema de consciência, passar o cheque, mas não resolve o problema. Eu preferia trabalhar em casos concretos."

A parlamentar começou por recordar que muitos pobres têm trabalho mas ganham "muito pouco". Por isso, propôs no Parlamento a alteração de feriados, mais quatro dias de trabalho por ano e o reforço do Salário Mínimo Nacional. Projecto rejeitado pelo próprio PS na quinta-feira. "A Igreja quer mais um subsídio, mas a pobreza resolve-se com o atender às condições específicas de cada família, porque cada família é um caso", sublinhou, admitindo a hipótese de voltar a apresentar o projecto sobre o reforço de salário mínimo e mudança de feriados com algumas alterações, na próxima sessão legislativa.

Questionada pelo CM sobre se estaria disponível para doar 20% do salário, a deputada respondeu: "Não posso doar uma parte do meu ordenado como deputada porque já dou parte para ajudar uma família em concreto."

Da reunião extraordinária da Comissão Episcopal da Pastoral Social, realizada quinta-feira, resultou uma exortação aos católicos para que se empenhem politicamente e denunciem situações de injustiça social. "É preciso ultrapassar o capitalismo neoliberal", disse D. Carlos Azevedo. Posteriormente, em entrevista à SIC Notícias, dirigiu-se especificamente aos políticos católicos.

Maria José Nogueira Pinto, deputada do PSD, entendeu as palavras de D. Carlos em sentido lato, como um estímulo à consciência social. Já Assunção Cristas, do CDS-PP, considerou que o apelo não deve restringir-se aos políticos, e José Manuel Pureza, do BE, defendeu que as palavras do prelado se dirigem a todos os que têm dinheiro.

ALEGRE DIZ QUE JÁ DESCONTA MUITO NOS IMPOSTOS

O candidato presidencial Manuel Alegre acolheu com agrado o apelo do bispo D. Carlos Azevedo no sentido da criação de um fundo social para apoiar os mais afectados pela crise, considerando contudo , em relação à doação de 20 por cento dos ordenados dos políticos, que já desconta muito nos impostos. "O bispo esqueceu-se de uma coisa: pagar impostos é necessário porque esse é o primeiro dever dos cidadãos", notou Manuel Alegre, para quem não só os cristãos, mas todos, têm a responsabilidade de ajudar os outros num momento de crise.