26.7.10

Quando a junta e a escola é que ocupam os filhos nas férias

Por Patrícia de Oliveira, in Jornal Público

Perante os custos mais elevados nas instituições privadas, os pais escolhem escolas e jardins-de-infância públicos para ATL de Verão


As ocupações de tempos livres promovidas pelas juntas de freguesia e escolas são as únicas alternativas para muitas famílias que não têm com quem deixar os filhos durante as férias de Verão. Mas serão as preferidas dos mais novos?

Os disfarces são variados: uma criança traz um vestido às bolinhas vermelhas e peruca loura, e outra parece Charlot. A brincadeira faz parte da tradição de praia-campo da junta de Benfica (Lisboa), onde os meninos se mascaram de meninas e as meninas de meninos, no final de cada turno. Os monitores dão o exemplo, provocando risada entre os mais novos, antes de mais um dia de actividades - o último pela junta de freguesia.

Para muitas das crianças, as ocupações de Verão terminaram. As duas semanas de praia-campo chegaram ao fim. A partir daqui, as férias serão passadas em casa ou com familiares. Os pais não têm com quem deixar as crianças nem orçamento para as inscrever nos ateliês de tempos livres (ATL) de privados. Maria Helena Nobre, técnica administrativa, é um exemplo. Mantém os dois filhos gémeos, de dez anos, nas actividades da junta de Benfica desde há três anos, porque "nos privados, as verbas são muito elevadas".

Grande parte dos pais até confessa gostar das actividades das instituições privadas, mas elas são pagas à semana e o preço (cerca de 150 euros) leva-os a optar por alternativas. Porém, a escolha é limitada, resumindo-se às juntas de freguesia e aos ATL das escolas primárias e jardins-de-infância que se mantêm abertos no Verão. Os preços, fixados segundo os escalões de IRS dos pais, são o factor mais apelativo para as famílias, variando entre os cinco e os 35 euros mensais, com acréscimo de um euro por dia para o escalão A e dois euros para os escalões B e C durante as férias. Mesmo com o acréscimo, fica mais barato do que as instituições privadas, sendo por isso uma mais-valia para os pais. Mas não a única.

"Eu não imaginava que um sítio público estivesse tão bem organizado", diz Antonieta Nunes, empregada de escritório e mãe de gémeos, referindo-se às actividades da escola EB1 n.º 101, em Alvalade (Lisboa). Desporto, ciência e culinária são alguns dos temas das férias, aliados a banhos com mangueira e visitas culturais. Para Antonieta Nunes, este ATL público não fica atrás dos privados: o importante é "ocupar [as crianças] com brincadeira e também com uma componente pedagógica".

Ainda assim, a ocupação não dura sempre. Agosto é mês de férias para muitos educadores e, por isso, grande parte dos ATL encerra. Só nessa altura alguns pais admitem recorrer ao privado, porque nos outros períodos de férias "a relação qualidade/preço não o justifica", diz Alexandra Cordeiro, socióloga. Os ATL privados não estão ao alcance de todos os orçamentos, obrigando alguns pais a levar os filhos para o emprego. O que, na opinião do psicólogo Quintino Aires, pode causar sofrimento à criança. "Não há disponibilidade para acompanhar a criança [no emprego]. Os pais estão emocionalmente indisponíveis para ela e aquilo que podia ser uma coisa boa para a criança acaba por ser frustrante", explica.

Situações destas são, contudo, residuais. Os pais confessam que só o fazem em último recurso, preferindo, sempre que possível, deixar os filhos com outras pessoas. Mesmo que isso signifique uma distância física entre ambos. Caso de Sandra Araújo, residente em Lisboa, que ficará quatro semanas sem ver a filha Raquel, de sete anos, tempo que estará em Viseu com os avós. "No início custa muito", confessa. "Mas tem de ser. E sempre dá para ela ir à rua e jogar à bola. Em Lisboa é quase impossível", conclui, acrescentando que no final de Agosto vai poder gozar férias com a filha.