26.7.10

Um milhão de pares por exportar

Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias

"Temos tanta gente a faltar que, até às férias, vão ficar por exportar centenas de milhar de pares de sapatos, seguramente um milhão", calcula Fortunato Frederico, presidente da associação do calçado e dono da empresa que fabrica a Fly London. Que as faltas ao trabalho são correntes é uma realidade, mas a razão pela qual isso acontece não é unânime.

Fernanda Moreira, presidente do Sindicato de Calçado de Aveiro, reconhece o grande número de faltas, sobretudo nesta altura do ano, mas justifica-o com a pressão a que os trabalhadores estão sujeitos, para duplicar turnos, fazer horas extraordinárias, encaixar mais trabalho no mesmo tempo. "Antes das férias, quando as pessoas já estão cansadas e sob pressão, é-lhes exigido ainda mais e não aguentam", disse, garantindo que as empresas com médico do trabalho têm menos absentismo. Além disso, a produção emprega sobretudo mulheres e em Agosto quase não se encontram infantários e ATL abertos, lembra.

Mas não só: "Os empresários desvalorizam a importância dos trabalhadores, dizem-lhes que não fazem falta nenhuma e eles acabam por pensar isso mesmo".

Fortunato Frederico bete na tecla: a da cultura, mas dos trabalhadores. "Há uns anos não era assim, instalou-se uma cultura de laxismo". Na sua empresa, assegura, é normal faltar um décimo das pessoas. "As justificações são fáceis, o trabalho é que fica por fazer".

O empresário recusa que os baixos salários sejam justificação. "Há dez anos era ainda mais pequeno e havia menos absentismo". Chegou a fazer uma experiência, não trabalhar sexta-feira à tarde, para que as pessoas tivessem tempo livre. "Resultou durante algum tempo, mas depois voltou tudo à mesma", disse.