29.8.10

Região Norte "ganhou" 22 mil precários num ano

Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias

Crise está a aumentar a precariedade: tanto a legal, assegura a CIP, quanto a ilegal, garante o FERVE


No último ano, o Norte viu a precariedade no trabalho disparar, ao contrário do sucedido no resto do país. Em 12 meses, na região, o número de pessoas a trabalhar contra recibo verde ou com contrato a prazo disparou para 547 mil - mais 22 mil do que há um ano.

Havia no país inteiro menos pessoas nos quadros das empresas, muitos mais desempregados e quase tantos precários, no segundo trimestre deste ano, comparando com a mesma altura do ano passado, diz o Instituto Nacional de Estatística (INE).

"Temos assistido a menos e pior emprego", diz Cristina Andrade, do FERVE, um movimento de combate aos falsos recibos verdes. "A sustentabilidade dos mercados é aleatória, é natural que as empresas não queiram comprometer-se com contratos de duração ilimitada", justifica Gregório Rocha Novo, da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP).

A nível nacional, Junho fechou com perto de um milhão e meio de precários, entre contratados a prazo e trabalhadores independentes isolados, que não empregam ninguém- sendo que uma parte substancial destas pessoas será um "falso recibo verde" (o número certo é impossível de quantificar com base nos dados do INE).

Mas se a quantidade de precários se manteve estável no Centro e em Lisboa, e se até desceu nos Açores, Alentejo e Algarve, já na Madeira (mais 3,3 mil) e no Norte (mais 22 mil pessoas, no espaço de um ano) disparou.

Gregório Rocha Novo não põe de parte a possibilidade de alguns empresários abusarem do trabalho precário, aproveitando o clima de crise económica, mas não acredita que seja essa a maioria dos casos. "Existirão algumas situações de falsos recibos verdes, ou contratos a prazo para necessidades permanentes, não vale a pena fechar os olhos, seria ingénuo dizer que não. Mas não acredito que terão a dimensão que lhes é dada".

O responsável da associação empresarial aponta, em alternativa, o desconhecimento em relação ao futuro para justificar o aumento da precariedade, a Norte. "A instabilidade instalou-se" e "a incerteza grassa nos mercados", pelo que"é natural que estes mecanismos sejam mais usados" pelas empresas, disse.

Cristina Andrade tem a visão oposta: "O Norte tem a taxa de desemprego mais elevada, houve imensas fábricas a fechar e mais gente a procurar trabalho", diz. Os postos laborais que aparecem "são precários" e "de má qualidade", aceites pelas pessoas porque "mais vale um mau emprego do que emprego nenhum". A Norte, garante, tem aumentado o número de pessoas que saem do país, em busca de trabalho no estrangeiro.

É que, agora, há menos empregos do que havia há um ano. No segundo trimestre, face ao homólogo, o Norte tinha perdido 27 mil empregos estáveis (nos quadros das empresas). Como, entretanto, foram criados empregos precários, o número global de postos de trabalho diminuiu em 16 600.