23.9.10

Estado vai gastar mais 36,7 milhões devido à alta dos juros

Pedro Araújo, in Jornal de Notícias

Portugal endividou-se, ontem, em mais 750 milhões de euros. As taxas de 6,24% (a 10 anos) e de 4,69% (a 4 anos) fizeram o Estado gastar mais 36,7 milhões em relação às últimas emissões de obrigações. O Governo está autorizado a emitir mais 2,5 mil milhões.

Quando é necessário dinheiro para fazer face a despesas ou amortizar dívida antiga, o Estado vai ao mercado e emite obrigações do tesouro (OT), o tipo de título mais usado. O montante angariado, ontem, no mercado da dívida (750 milhões) é superior às receitas anuais da ADSE previstas para 2011 (600 milhões) e é de valor quase idêntico à obra entre Coimbra e Viseu da Auto-Estradas do Centro (740 milhões).

Ontem, Portugal pediu aos investidores para comprarem OT a 10 anos (prazo para amortização completa dos juros) a 4,8% ao ano. Recebeu resposta negativa e só conseguiu vender a 6,24%, quando a última emissão semelhante (25 de Agosto) tinha pago a 5,13%. De acordo com Paulo Rosa, analista do Banco Carregosa, o Estado pagou mais 19,35 milhões de euros pelos 300 milhões de euros.

Mas o Instituto de Gestão do Crédito Público (IGCP) tentou igualmente convencer os investidores a comprarem 450 milhões de euros a quatro anos com uma taxa de juro de 3,6%. Novo revés: teve de pagar 4,69%, gastando mais 17,42 milhões de euros relativamente à emissão de 28 de Julho.

Contas feitas, Portugal gastou mais 36,7 milhões do que teria despendido se os juros ontem exigidos pelos investidores tivessem sido os mesmos praticados aquando das últimas emissões de dívida. O resultado é que Portugal pagou os juros mais elevados desde a adesão ao euro (1999) em dias de emissão de dívida pública.

Paradoxalmente, à medida que o risco aumenta, a procura sobe por parte de investidores à procura de remunerações (juros) superiores e a procura das OT a 10 anos superou em cinco vezes a oferta. Aliás, uma vez satisfeitos os compradores da dívida portuguesa, cuja agitação mereceu destaque na edição online do "Financial Times", o mercado acabou por acalmar, fechando as OT portuguesas a 10 anos nos 6,14%.

Para uma emissão de mil milhões de euros a 10 anos, a Alemanha (taxa de 2,3%) vai ao mercado e paga 23 milhões de euros de juros e Portugal (6,1% no fecho de ontem) tem de gastar 61 milhões por ano. Mas o Estado ainda deverá endividar-se em mais 2,5 mil milhões de euros este ano (até atingir 17,4 mil milhões, só relativos a 2010). Se, por hipótese, só vender OT a 10 anos para aquele montante e o juro for o mesmo de da emissão de ontem, o encargo anual para todos nós será de 156 milhões de euros.

Glossário

Obrigações do tesouro (OT)
As obrigações do tesouro (OT) são valores mobiliários de prazo vairável (de 1 a 50 anos), cuja emissão se efectua através de operações sindicadas, leilões ou por operações de subscrição limitada.

OT são o principal título
As OT constituem o principal instrumento da dívida pública utilizado pelo Estado português para satisfazer as suas necessidades de financiamento. Bilhetes do tesouro, certificados do tesouro ou de aforro são também títulos da dívida.

Dívida pública
Quando o Estado precisa de dinheiro para cobrir parte das despesas, emite títulos da dívida, e se os investidores (compradores) admitem que há um risco elevado obrigam o emitente (Portugal) e pagar-lhes um juro mais alto. Num efeito dominó, quando o Estado paga mais para obter dinheiro, banca, empresas em geral e famílias correm o risco de arcar com custos de produção ou preços finais mais elevados.