21.9.10

Idosos morreram esquecidos numa carrinha 12 horas

Augusto Correia, in Jornal de Notícias

Dois idosos ficaram esquecidos cerca de 12 horas numa carrinha e acabaram por falecer. O director do lar, nos arredores de Madrid, assumiu as responsabilidades.

As palavras parecem sinceras. Luis Miguel Aranda assume todas as responsabilidades na morte de dois idosos, de 83 e 87 anos, que deixou esquecidos numa carrinha durante cerca de 12 horas. "Aconteceu da forma mais estúpida que se pode imaginar", disse.

"Foi um erro trágico. Um erro humano estúpido e injustificável, que estamos a pagar. Não podem imaginar o que sentimos. Preferia ter morrido eu", disse Luis Miguel Aranda, em declarações à imprensa espanhola. "Peço perdão às famílias", acrescentou o co-director do lar para idosos “Virgen del Consuelo”, em Ciempozuelos, Madrid.

A sinceridade de Aranda chega ao ponto de não conseguir explicar ao certo o que se passou. Contou aos jornalistas que foi recolher sete idosos, no sábado, às residências. Levou-os para o lar e começou por ajudar os que caminhavam a chegar ao interior do retiro, onde foram atendidos por outros funcionários.

Na carrinha ficaram dois idosos em cadeiras de rodas e com demência. A caminho da viatura, Aranda conta que se distraiu, não sabe bem como nem porquê. "Foi um telefonema, uma conversa com uma auxiliar ou com um familiar", desabafou o co-director do retiro, a meias com o irmão, dando seguimento ao negócio fundado pelo pai de ambos em 1983.

No lar ninguém deu pela falta dos dois idosos. "É um local de entrada livre, há idosos que vêm um dia e não outro". Não passou pela cabeça de ninguém que tivessem ficado esquecidos na carrinha.

"Aconteceu tudo o que podia acontecer para se dar uma tragédia", acrescentou Luis Miguel Aranda. A carrinha tem vidros fumados e, por fora, não era perceptível se alguém estava no veículo. Ao contrário do usual, ninguém precisou da carrinha naquele dia para ir fazer algum recado.

Só no fim da jornada de trabalho, cerca de 11 a 12 horas depois, Aranda voltou à viatura, para levar alguns idosos a casa. Encontrou os cadáveres dos idosos, que terão morrido de desidratação ou vitimados por um golpe de calor, estimam as autoridades espanholas.

"Levei-os para dentro da casa e tentei reanimá-los, mas dei-me conta de que não poderia fazer nada por eles", contou Aranda, que falou à imprensa acompanhado das duas filhas. Quando percebeu que os idosos estavam mortos, avisou as famílias e chamou a polícia.

Foi presente a tribunal, no domingo, e saiu em liberdade. Confessou, tem residência fixa e não constituiu risco de fuga, determinou a juíza que o ouviu.

Nas duas últimas vistorias ao lar, em 2009 e em Agosto último, as autoridades responsáveis não encontraram qualquer problema, tão-pouco qualquer queixa.