24.11.10

25% dos homens correm alto risco de infecção com VIH

Ivete Carneiro, in Jornal de Notícias

Onusida coloca Portugal no terceiro lugar em termos de prevalência da doença na Europa


Os portugueses têm mais comportamentos sexuais de risco do que as portuguesas: 27% tiveram múltiplos parceiros no último ano, contra 9% das mulheres. E apenas 39% dos utilizadores de droga injectável usaram preservativo na última relação.

Os números constam do último relatório da Onusida e dão conta da existência de cerca de 42 mil infectados com VIH em Portugal. Em 2001, eram 31 mil, um aumento que se deve ao sucesso dos tratamentos, que fizeram da infecção uma doença crónica. Em 2009, a taxa de sobrevivência dos doentes a receber terapias antiretrovirais (ART) foi de cerca de 80%.

A tendência acompanha o resto do Mundo: no ano passado, o número estimado de portadores do vírus a nível mundial era de 33,3 milhões, mais meio milhão do que em 2008 e mais 7,1 milhões do que há dez anos. Devido ao "alargamento do acesso ao tratamento".

O tom do relatório - subordinado ao lema "Zero novas infecções com VIH, zero discriminação e zero mortes relacionadas com sida" - é misto. Por um lado, há optimismo, porque revela que o mundo "conseguiu travar a epidemia": enquanto as mortes caíram de 2,1 para 1,8 milhões anuais em dez anos, as novas infecções em 2009 foram de 2,6 milhões (360 mil em crianças), menos 19% do que os 3,1 milhões de 1999, uma redução que sobe para 25% entre os jovens dos países mais afectados pela epidemia.

Mas, por outro, há o alerta de que nada disto permite suspirar de alívio: apenas 5,2 milhões dos mais de 15 milhões de doentes dos países pobres ou intermédios que precisam têm acesso aos tratamentos. Ainda assim, á patente uma melhoria, dado que, em 2004, eram uns escassos 700 mil. Em Portugal, todos os doentes com tuberculose infectados recebem ART. Mas é apenas o caso de cerca de 10% dos utilizadores de drogas injectáveis.

Apesar de o número de novas infecções estar abaixo dos mil, Portugal mantém uma posição pouco abonatória no quadro alargado da Europa. Com uma taxa de prevalência entre adultos nos 0,6%, somos o terceiro país no ranking, apenas à frente da Letónia e da Estónia. Uma realidade que poderá ter a ver com os comportamentos de risco, dado que cerca de 25% dos homens correm elevado risco de contrair VIH (10% nas mulheres), uma das percentagens mais elevadas da Europa. Além disso, estima-se que pouco mais de 50% deles usem preservativo e 45% delas o façam. No caso dos dependentes de droga injectável, e apesar dos programas de trocas de seringas, 31% continuam a utilizar agulhas usadas e só 38% dizem ter-se protegido na última relação sexual.

Do lado das boas notícias está a África subsaariana, região mais fustigada pela sida. Reuniu 1,8 milhões das novas infecções no ano passado e 1,3 milhões das mortes e tem 5% da população adulta infectada. No resto do Mundo, a prevalência é de 1% ou menos. Aquela região africana é responsável por 67% dos doentes existentes, um número estável apesar da diminuição em mais de 25% dos infectados em 22 países.