29.11.10

Do pacote de arroz ao bacalhau e à comida para gato

in Diário de Notícias

António Martins é voluntário no Banco Alimentar contra a Fome "a tempo inteiro". Veio há quatro anos, depois da reforma, porque queria dedicar-se "a fazer qualquer coisa útil" e foi ficando. Ontem, no armazém de Alcântara, tinha como missão distribuir as ofertas mais raras por caixas pequenas, de forma a conseguirem entregar um "miminho" a cada uma das 1800 instituições que fornecem. Pequenos cabazes onde cabem chocolates, bombons, café e chá, gelatina instantânea, pacotes de gomas e até amendoins torrados. Há também caixas com bacalhau, oferecido certamente a pensar na ceia de Natal.

"A maior parte das pessoas dá o que pedimos nos sacos", explica a presidentes do Banco Alimentar, Isabel Jonet. Ou seja, massas, leite, salsichas, azeite e óleo, por exemplo. Mas qualquer ajuda é bem-vinda, dizem. Mesmo que à- s vezes não saibam bem o que fazer com ela, como é caso de três embalagens de comida para gato sozinhas em cima de um balcão.

Há ainda uma pilha de ovos que têm de ser guardados no frio e distribuídos rapidamente, tal como o leite do dia, iogurtes e manteiga. "Tem de sair rapidamente, o mais tardar na terça-feira", explica António.

Na azáfama que caracteriza o pavilhão onde se separam os alimentos, e onde qualquer pessoa parada está sempre no caminho de alguém ou de um empilhador, K.C. sobressai pela estatura e sotaque. "É a terceira vez", diz o americano, que faz parte do grupo de voluntariado da embaixada, onde trabalha. Aliás, há muitos voluntários que se organizam nas respectivas empresas - e a participação nestas acções até conta para a avaliação.

Num armazém mais pequeno - longe da confusão do principal, mais propícia a acidentes - os menores de 12 também dão o seu contributo. Binta tem nove anos e diz que está aqui "para ajudar as pessoas". Puxa as amigas Carolina e Inês para a frente para explicarem que já estiveram a trabalhar. "A arrumar diversas coisas no sítio certo", diz Inês. E para não se esquecerem que tipo de alimento devem agarrar cada criança tem uma faixa amarrada no braço com a respectiva fotografia. "São sementes de cidadania que estamos a plantar", explica Isabel Jonet.