29.11.10

Mais de 100 mil nascimentos em 2010

por Céu Neves, in Diário de Notícias
Nos primeiros dez meses de 2010 fizeram-se 83 756 testes do pezinho, mais 970 do que em igual período de 2009


Nasceram mais crianças em 2010 do que em 2009. Os dados definitivos dos nascimentos em Portugal só serão conhecidos em meados do ano que vem, mas os testes de pezinho, rastreio que todas as crianças do País devem realizar nos primeiros dias de vida, indicam um aumento comparativamente ao ano passado, o que quer dizer que vamos voltar a subir acima da barreira dos cem mil nascimentos.

Nos primeiros dez meses deste ano fizeram-se 83 756 testes, mais 970 do que em igual período de 2009. "A taxa de cobertura é praticamente de cem por cento, o que nos leva a concluir que há mais crianças este ano", sublinha Rui Vaz Osório, coordenador da Comissão Nacional de Diagnóstico Precoce.

E há uma segunda fonte de informação que indica um aumento da natalidade este ano e que tem que ver com as crianças registadas nas conservatórias. Dados do Ministério da Justiça revelam que nasceram 90 522 bebés entre 1 de Janeiro e 20 de Novembro deste ano, quando em igual período de 2009 eram 89 866. A pesquisa efectuada foi feita por data de nascimento e não pela data de registo, já que o registo pode não corresponder a um nascimento ocorrido no próprio ano (os que nascem em Dezembro, por exemplo).

Trata-se de um pequeno aumento, não chega a mil, mas que é suficiente para que o total de nascimentos volte novamente à centena de milhar, fasquia abaixo da qual tinha descido pela primeira vez em 2009 (ver gráfico). Embora nos anos 60 fossem mais de 200 mil.

"É uma diferença muito pequena, mas, de qualquer forma, é uma diferença positiva", assinala Mário Leston Bandeira. O sociólogo especialista em demografia não acredita que o aumento inverta a tendência de diminuição da natalidade em Portugal. "Não é mais mil que fará aumentar o índice de fecundidade [1,3 crianças por mulher em idade fértil]. A crise está a puxar a natalidade para baixo e não vai haver uma subida nos próximos anos. As condições para ter emprego vão sendo cada vez mais difíceis, sobretudo para os mais jovens", justifica.

A questão é que a crise não é actual, podendo existir casais que decidiram ter filhos se era esse o desejo e sentem que as perspectivas não vão melhorar. "Não conheço estudos que façam uma comparação nesse sentido. Agora, há uma coisa que é bastante clara em Portugal, mesmo no que toca aos nascimentos. As pessoas agarram-se muito às questões dos afectos, da família quando as coisas no domínio público são difíceis. Há um certo fechamento para um núcleo privado, mais restrito, porque as pessoas estão mais desiludidas e mais tristes", explica Anália Torres.

Apesar daquela "adaptação" dos portugueses a uma realidade difícil, a socióloga da família não acredita que, com a actual situação e falta de medidas que incentivem a natalidade, se inverta a tendência de decréscimo. "A crise não tem consequências automáticas na estrutura da família. Os fenómenos demográficos devem ser analisados ao longo de um período e não através das variações anuais", sublinha.

No ano passado registaram-se 99 491 nascimento, a primeira vez que baixámos dos cem mil desde que há estatísticas no País, ou seja, desde 1900. A diminuição de nascimentos foi mais abrupta em 2009 do que em anos anteriores, menos 5% relativamente a 2008. E o índice de fecundidade (crianças nascidas por mulheres em idade fértil) baixou de 1,37 para 1,32. Números ponderados, significa que a taxa de reprodução foi de 0,644 quando o mínimo exigido para a substituição de gerações é de um.