24.11.10

Taxa de jovens infectados é a mais alta da Europa Ocidental

Por Clara Viana, in Jornal Público

Responsável português não subscreve dados da ONU e garante que novos casos de infecção por VIH baixaram para metade em Portugal


A percentagem de jovens que dizem utilizar preservativos é maior do que a dos adultos, mas, entre os países da Europa Ocidental e Central, Portugal é o que tem uma maior taxa de prevalência do vírus da imunodeficiência humana (VIH) no grupo entre os 15 e os 24 anos. Esta é uma das constatações patentes no relatório anual da OnuSida sobre o estado da doença no mundo. O documento respeitante a 2009 foi ontem divulgado.

Na população entre os 15 e os 49 anos, 55 por cento dos homens que tiveram mais do que um parceiro sexual no espaço de um ano afirmam ter utilizado preservativo, uma percentagem que baixa para 46 por cento en- tre as mulheres. Já entre os jovens dos 15 aos 19 anos, 74 por cento dos rapazes e 65 por cento das raparigas dizem ter utilizado aquele método contraceptivo.

Esta é uma constante em quase todos os 182 países radiografados no relatório da OnuSida: os preservativos são mais populares entre os jovens do que entre os adultos. Segundo a organização, a adopção de comportamentos mais seguros nesta faixa etária terá sido fundamental para uma das boas notícias relativas a 2009 - entre os jovens de 15 dos países mais afectados pela doença, a prevalência do VIH caiu mais de 25 por cento por comparação a 2001.

Em 2006, a OnuSida procedeu a uma mudança da metodologia utilizada para obter estas estimativas, que levou a uma recontagem das pessoas afectadas pelo VIH no mundo - passaram de 39,5 milhões em 2006 para 33,2 em 2007. Esta mudança torna difíceis as comparações com anos mais recuados. Em 2009, o número total de pessoas que viviam com o vírus era de 33,3 milhões (no ano anterior tinham sido contabilizadas 33,4 milhões nesta situação).

Esta tendência de quebra continua a não ser acompanhada por Portugal. Nos últimos 10 anos, o número to- tal de infecções subiu de 31 mil pessoas para 42 mil (35 por cento), das quais 13 mil são mulheres. Se a taxa de prevalência entre os jovens é a mais elevada da Europa Ocidental e Central, na população entre os 15 e os 49 anos é a terceira maior - 0,6 por cento. Uma percentagem apenas superada pela Estónia (1,2 por cento) e Letónia (0,7).

Cálculos errados

Henrique Barros, coordenador nacional para o VIH/sida, não estranha que o país ocupe estes lugares, já os tinha antes e portanto a situação não se agravou, frisa, mas levanta dúvi_ das quanto aos números avançados pela OnuSida. Tanto o número de pessoas que vivem com VIH, como a taxa de jovens nesta situação - 0,2 do sexo feminino e 0,3 do sexo masculino - não foram fornecidos à organização por Portugal, indica. O que quer dizer, explica, que são estimativas calculadas com base num programa informático que se tem mostrado adequado para países em vias de desenvolvimento, como os africanos, mas que não tem resultado na Europa, onde a epidemia não se encontra concentrada.

Em vez dos 42 mil avançados pela OnuSida, Henrique Barros afirma que se estará hoje perto dos 40 mil. O que quer dizer, sobretudo, que há muito menos pessoas a morrer com a infecção e isso "é uma boa notícia", frisa. Acrescenta que como a tendência é para uma maior longevidade entre os doentes, não se esperam grandes oscilações neste indicador. Lembra que a evolução da doença se afere sobretudo pelo número de novos casos - com base nos quais se calcula a taxa de incidência - e que é sobre este outro indicador que se tem de ter particular vigilância: "Em Portugal, o número de novos casos baixou para metade em quatro anos. Em 2005 foram diagnosticados mil novos casos. Em 2009 este número baixou para 500". "Estamos no bom caminho, mas não é uma conquista adquirida. Se nos distrairmos, a infecção voltará brutalmente", alerta.

Em números absolutos, o relatório da OnuSida coloca Portugal entre os cinco países da Europa Ocidental com mais casos de novas infecções. Indica que, em 2009, se terão registado entre 1000 a 2300 novas infecções. Um desvio para cima que Henrique Barros atribui também ao método de cálculo utilizado pela organização.

As principais quebras no número de novas infecções registam-se nas regiões mais devastadas pela epidemia, como é o caso da África subsariana. Tanto a prevenção, como o tratamento estão a resultar, conclui-se no relatório.

No mundo é garantido tratamento a cinco milhões de pessoas com VIH. Mas há mais 10 milhões que já deveriam estar a ser tratadas e não estão. Em Portugal, segundo Henrique Barros, estão hoje em tratamento cerca de 24 mil doentes, o dobro dos que se encontravam em 2006.