24.11.10

Vamos saber melhor como se é velho por cá

Eduarda Ferreira, in Jornal de Notícias

"Assim como viveste, assim envelheces e assim morres". Esta é a convicção do director do Instituto do Envelhecimento, criado há um ano, que tem vários projectos em curso sobre as realidades demográficas e sociológicas ligadas à idade, focando a faixa sénior.

Manuel Villaverde Cabral, antes de se jubilar das suas funções na Reitoria da Universidade de Lisboa e de investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais, já estava com outra tarefa a encetar, aos 69 anos. Não é, por isso, um português dos mais frequentes na inactividade pós-reforma aquele que foi encarregado pela Fundação Calouste Gulbenkian de investigar o envelhecimento da população, comparando o fenómeno com o de outros países e olhando para realidades simultâneas como a dos jovens, a natalidade ou as migrações/emigrações.

O futuro é outro dos alcances visados, para que haja cenários diversos a tomar em conta e rumos em potencial escolha, caso os decisores queiram mesmo decidir com fundamento. De variáveis e projecções serão feitos também os estudos dos especialistas que estão já a contribuir para o Instituto do Envelhecimento.
Velhice pesa nas votações


Para Manuel Villaverde Cabral, "os políticos são sensíveis a duas coisas relacionadas com a idade: o peso da população idosa nas despesas do Estado e o peso dos seus votos". O mesmo investigador constata que, em Portugal, os movimentos de idosos e o exercício de lóbi por parte destes é residual (dá o MURPI como exemplo único), enquanto em Espanha há uma federação influente de organizações de séniores.


Na escolha de projectos de investigação prioritários inclui-se uma abordagem nacional aos dados do European Social Survey, com a Psico-sociologia a comandar as perspectivas. Objectivo: conhecer a forma como as pessoas entendem a idade. A delas e as dos outros.


A recolha e a análise foram feitas por Luísa Pedroso Lima, do Instituto de Ciências Sociais, sendo financiadas pelo Instituto do Envelhecimento. Ainda lhe falta a forma acabada, mas Villaverde Cabral adiantou ao JN que, por exemplo, "os jovens se sentem jovens para além dos 29 anos". Para eles, "é-se já idoso ou mais idoso do que os próprios idosos se vêem a si próprios".
"Interessa-nos conhecer as consequências sociais que a representação (ideia) da idade têm em Portugal", afirma, para indicar a constatação de que "um dos estereótipos mais sérios é a da contribuição versus inutilidade". Ou seja, por exemplo em relação aos idosos, a ideia de que eles ou já não prestam ou podem ser explorados no trabalho.

Villaverde Cabral constata que "estas atitudes existem, ainda que em Portugal não sejam expressas por palavras como noutros países". Por cá, "pouca gente também admite ter sido discriminada", o que não acontece "lá fora", onde são os jovens a dizer-se discriminados". Neste estudo, com resultados adivulgar em 2011, há quem diga que os velhos não devem trabalhar.

Dois dos outros projectos dinamizados pelo Instituto do Envelhecimento são financiados pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, dirigida por António Barreto. Um foca a ocupação do tempo pelo idoso; o outro a natalidade e o seu decréscimo como factor de envelhecimento e até de empobrecimento da população. Os dados poderão cumprir uma das missões do instituto: contribuir para as políticas públicas.