28.12.10

CGTP diz que Ano Europeu contra a Pobreza foi um "falhanço total"

in Jornal de Notícias

O secretário geral da CGTP-In considera que o Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social, que decorreu em 2010, foi um "falhanço total", não tendo sido atingidos quaisquer dos objectivos propostos.

"Chegados ao final do ano, é tempo de se fazer um balanço, tanto mais que se trata de um tema de enorme sensibilidade, quer no contexto europeu, quer no contexto nacional. Reflectindo sobre o percurso feito este ano nesta matéria, nós vemos que o balanço do Ano Europeu significa um completo falhanço dos objectivos enunciados", defendeu Carvalho da Silva, ontem, terça-feira, em conferência de imprensa.

Para a CGTP-In, "nenhum objectivo foi alcançado" e durante o ano de 2010 foi possível ver emergir uma União Europeia "menos solidária".

No entender de Carvalho da Silva, três factores contribuíram "de forma decisiva para este retrocesso no combate à pobreza e à exclusão social", nomeadamente "a persistência e o agravamento da ortodoxia económica que vem sendo seguida nas políticas europeias".

Outra razão tem a ver com os "constrangimentos a que as políticas são submetidas para execução do Programa de Estabilidade e Crescimento, quer quanto a metas, quer quanto a prazos".

A terceira razão prende-se com o facto de "se ter caminhado no sentido de facilitar o desemprego, estando o país num contexto de agravamento de desemprego que é ele mesmo uma causa do agravamento da pobreza".

Dar é importante mas não resolve situação de pobreza

Carvalho da Silva apontou que em Portugal a situação se tem reflectido na "destruição do caráter solidário do sistema de protecção social" e alertou que se caminha para uma "espécie de espiral regressiva", em que os pobres estão cada vez mais pobres em nome da solidariedade.

Acrescentou que o número de pessoas que recorrem às instituições de açcão social tem aumentado, mas sublinhou que, se é importante dar, isso não resolve a situação de pobreza porque também se tem assistido a uma degradação do mercado de trabalho.

De acordo com o líder da CGTP, 2010 foi o ano em que o corte na protecção social foi maior. Houve "um sem número de subsídios que foram cortados em nome de que 2010 é um ano de crise".

No próximo ano, na perspectiva da CGTP, o desafio está "na criação de emprego com desenvolvimento do país, voltado para as pessoas e não para a concentração da riqueza em alguns".

Carvalho da Silva disse também que a falta de resultados mostra o "falhanço político total e absoluto" porque "as opções políticas não têm em conta os objectivos que estavam enunciados para o Ano Europeu".

Nesse sentido, defendeu, é preciso afrontar o poder político e desestabilizar "a classe burguesa", "pondo em causa as opções, os caminhos e as propostas concretas que têm sido executadas".