22.12.10

Crise diminui donativos monetários para solidariedade

Susana Venceslau*, in Jornal de Notícias

A crise está a afectar os donativos que chegam às instituições que trabalham na área social, principalmente quando o donativo é em dinheiro. A AMI, por exemplo, teve o pior resultado dos últimos dez anos no seu peditório principal.

A secretária-geral da Assistência Médica Internacional (AMI) admite que ainda é cedo para fazer um balanço dos donativos angariados durante o ano de 2010 porque "é na altura do Natal que chega uma grande parte", mas tem a noção de que houve um decréscimo no valor oferecido pelo cidadão comum.

Luísa Nemésio faz essa avaliação com base no principal peditório de rua anual da AMI, realizado no mês de Outubro, durante o qual não houve um decréscimo no número de donativos, mas sim no valor total angariado.

"Quando se começou a falar mais na crise, nos últimos meses, as perspectivas tornaram-se sombrias e o peditório de Outubro teve um sinal claro dessa tendência. No ano passado fizemos 141 mil euros, este ano fizemos apenas 81 mil euros. É o valor mais baixo dos últimos dez anos", revelou a responsável.

Para a SOL, uma associação de apoio às crianças infectadas com o vírus da sida, os donativos monetários têm vindo a diminuir há alguns anos, mas 2010 "foi o ano pior".

"Não quer dizer que não dêem, mas, por exemplo, uma pessoa que dantes dava 20 euros, agora dá cinco. Não estão a deixar de dar, estão a tentar ajudar, mas nota-se a dificuldade nessa vontade", revelou a presidente da SOL, Teresa D"Almeida, acrescentando que a diferença para 2009 anda "nas centenas de euros".

De acordo com a responsável, a instituição recebeu este ano entre 25 e 30 por cento menos do que recebe habitualmente.

A Cáritas Portuguesa foi outra instituição que se ressentiu com a crise e, de acordo com o seu presidente, a quebra nos donativos chegou a 30 por cento em algumas zonas do país.

Eugénio Fonseca explicou à Lusa que para fazer a sua análise teve por referência os donativos do último peditório público, levado a cabo durante o mês de Fevereiro.

"O que vamos sentindo é que as pessoas que habitualmente ajudavam não estão a ajudar nos montantes que costumavam disponibilizar", adiantou, ressalvando que está a decorrer a campanha "Um milhão de estrelas -- Um gesto pela Paz", que termina a 24 de Dezembro, e só nessa altura será possível fazer um balanço dos donativos de 2010.

O presidente da Cáritas entende, no entanto, que em termos de oferta de bens a realidade é outra e que as últimas campanhas mostram que aumentou a entrega de géneros.

Realidade bem conhecida pelo Banco Alimentar contra a Fome (BA), instituição que, na última campanha de angariação de bens alimentares, registou um aumento de 30 por cento relativamente ao ano passado.

"Por um lado, isto tem a ver com a confiança na instituição. Por outro lado, a generosidade dos portugueses não deixa de dar em altura de crise porque o Banco Alimentar pede alimentos e não pede dinheiro para salários", defendeu a presidente da instituição, Isabel Jonet.