26.12.10

Pobreza: Pobreza esconde-se em casa degrada no coração de Viana

in Correio do Minho

O centro histórico de Viana do Castelo esconde também situações de pobreza, já identificadas pelas autoridades mas difíceis de resolver.

Conceição, 51 anos, vive no limiar da pobreza em pleno centro histórico, numa casa velha e degradada. O teto, em esferovite e com panos a tapar os buracos, é partilhado pelo filho de Conceição, de 16 anos, e por uma tia, de 76.

O rapaz estuda, as mulheres estão reformadas, recebendo ambas uma pensão na ordem dos 200 euros. O ar pesado da casa em casa é evidente, mas Conceição, que ali vive há 13 anos, já nem sequer se apercebe.

“Se cheira mal, deve ser por causa da coisa da fossa da casa de banho”, atira, minimizando a situação.

Quem já há muito se apercebeu que aquela casa “não possui condições de utilização” foi a Câmara de Viana do Castelo, que em dezembro de 2008 determinou mesmo o despejo daquela família, para a realização de obras mas, entretanto, nada mais foi feito.

Numa notificação então emitida, a Câmara apontava as “más condições de segurança e de salubridade” do edifício e o “perigo para a saúde dos ocupantes”.

“O problema é que o senhorio não quis saber e a Câmara desistiu de tudo. E nós continuamos a viver nesta miséria e neste perigo. Que remédio temos nós. Não tenho dinheiro para pagar outro aluguer”, confessa Conceição.

A renda é baixa: 68 euros e um cêntimo. Agora vai aumentar 20 cêntimos. O piso de cima, desabitado há uns três anos e em crescent e degradação, aumenta os problemas do lar de Conceição. As paredes não escondem a humidade que ali entra, a que se associam problemas de higiene, exigindo uma desratização que tarda.

“Eu só pedia que me fizessem obras na casa, mais nada. De resto, a gente cá se vai remediando, bem ou mal, como Deus quer”, apela Conceição, um exemplo que cada vez menos é isolado na cidade.

“Os casos de pobreza estão a aumentar, a aumentar muito”, assegura José Machado, presidente da Cáritas Diocesana de Viana do Castelo.

Em 2010, e apenas até finais de novembro, a Cáritas atendeu 1381 famílias, abrangendo um total de 3500 pessoas, mas até final do ano este número “vai ser ultrapassado de longe, uma vez que a procura costuma disparar em dezembro, por alturas do Natal”.

Durante todo o ano de 2009, a Cáritas de Viana do Castelo tinha atendido 935 famílias, num total de 2500 pessoas.

Com a abertura de uma delegação do Banco Alimentar Contra a Fome em Viana do Castelo, o apoio da Cáritas passou a ser menos em géneros alimentícios e a estender-se ao pagamento de rendas de casa, propinas, medicamentos, material escolar e transporte para consultas médicas.

“Há muitos novos casos de pobreza. É irónico - e faz-nos pensar a todos - ver que hoje nos vêm bater a porta, a pedir ajuda, pessoas que até aqui vinham cá mas com contributos para ajudar os outros”, refere José Machado.