29.3.11

Faculdade de Engenharia do Porto aposta no fomento do empreendedorismo

Por Luísa Pinto, in Público on-line

O último inquérito mostra que 84 por cento dos alunos da instituição que terminaram o curso em 2009 conseguiram colocação nos seis meses seguintes. Feiras de emprego dão forte ajuda

Não se sabe se o emprego conseguido é precário ou não. Certo é que os recém-formados da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) não dão um grande contributo para as fileiras do desemprego nacional.

As grandes e pequenas empresas, nacionais e multinacionais, procuram os quadros formados na instituição - como parece revelar a adesão que têm tido as Feiras de Emprego organizadas todos os anos. E a própria faculdade estimula alunos e professores a apostarem na criação do próprio emprego, o que quase transforma a FEUP numa incubadora de empresas.

A taxa de empregabilidade mantém-se elevada, apesar de revelar uma ligeira contracção. O último inquérito feito em Maio apurou que 84 por cento dos alunos que terminaram a sua graduação em 2009 encontraram o primeiro emprego num período de seis meses após a conclusão do curso. No ano anterior, a taxa de empregabilidade nos primeiros seis meses rondava os 91 por cento.

Estes números podem ajudar a quantificar o resultado do esforço que é feito pela Divisão de Cooperação da FEUP, o organismo responsável pela organização das Feiras de Emprego (ver segundo texto). É no seio desta divisão que funciona um Gabinete de Apoio ao Empreendedorismo, onde se destaca uma equipa que tem como missão a transferência de tecnologia, nomeadamente a criação de spin-offs, dando apoio aos estudantes e docentes na criação das suas empresas.

Pedro Coelho, que pertence a essa estrutura, é o economista que ajuda engenheiros e candidatos a engenheiros a avaliar a potencialidade de uma ideia para a criação de um negócio, e a proporcionar as ferramentas que são necessárias para o arranque de uma empresa. "Muitos alunos têm a percepção de que a sua empregabilidade terá de passar pela criação da sua própria empresa. E a FEUP pode dar um apoio considerável, ainda que indirectamente", explica.

Pedro Coelho refere-se aos vários mestrados que existem na instituição, entre os quais se destaca o Mestrado em Inovação e Empreendedorismo Tecnológico (MIET), no âmbito do qual já surgiram três start-ups. Mas também se refere aos quatro pólos do Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, o UPTEC, cuja taxa de ocupação é garantida, em cerca de 60 por cento, por alunos e professores da Faculdade de Engenharia. Nesses quatro pólos, estão instaladas 91 empresas - e já foram 95, mas quatro delas saíram da "incubadora" para arriscar novos voos.

A preocupação em colocar na comunidade académica a semente do empreendedorismo é transversal na FEUP. O que ajudará, também, a perceber por que é que é no seio da própria faculdade que surgiram mais spin-offs, inclusive em número superior aos institutos de interface, como são o Inesc Porto e o Inegi - onde também muitas ideias de investigação e patentes são transformadas em tecnologias e produtos comercializados por empresas criadas para esse efeito.

Dois exemplos. A empresa BERD - Projecto, Investigação e Engenharia em Pontes, resultou de uma tese de doutoramento de um professor da FEUP. A tese trabalhou uma tecnologia (o sistema OPS) que culminou numa patente, e que agora é vendida para todo o mundo. A Tomorrow Options é outra empresa. A ideia partiu de dois alunos do MIET, que perceberam que poderiam alterar o âmbito de aplicação de uma tecnologia à base de sensores desenvolvida na faculdade. Em conjunto com dois investigadores da FEUP que estudaram essa tecnologia, avançaram para uma empresa que comercializou dispositivos portáteis para a prevenção do pé diabético.

Num esforço de rastrear o número de empresas que, nos últimos dez anos, professores, estudantes e até mesmo técnicos da FEUP criaram nas mais diversas áreas - química, civil, informática, etc. -, a Divisão de Cooperação contabilizou 62 empresas, a envolver mais de 100 alunos e professores. O que dá uma média de seis novas empresas criadas por ano. Pedro Coelho não tem provas, mas tem a clara convicção de que anualmente são criadas muitas mais. "Esse foi o levantamento possível. Temos noção que o número de empresas criadas aumentou significativamente nos últimos anos. Só no âmbito de spin-offs no universo FEUP, temos contabilizado o surgimento de três a quatro empresas por ano", assegura.