30.3.11

Fitch avisa que cortará rating de Portugal se FMI não intervier

Por Pedro Crisóstomo, in Público on-line

A agência Fitch deixa mais um aviso, peremptório, a Portugal: se o Estado não for socorrido pela União Europeia e pelo FMI, o rating da dívida soberana nacional pode baixar ainda mais em breve.

Depois de ontem ter insistido na inevitabilidade de uma intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) nos próximos meses em Portugal, a Fitch deixa hoje claro que, se tal não acontecer, cortará o rating da República, como sucedeu no dia seguinte ao chumbo do PEC IV no Parlamento e à demissão de José Sócrates.

Numa nota publicada hoje pela agência sobre as implicações do acordo assumido entre os Vinte e Sete no Conselho Europeu da semana passada, a Fitch diz que será “improvável” que daqui resulte uma melhoria das condições de financiamento dos países periféricos da zona euro, adiada que ficou para Junho a formalização de um documento sobre alterações ao fundo de socorro do euro (EFSF) e o funcionamento do mecanismo europeu de estabilização (ESM), que o substituirá a partir de 2013.

Sobre Portugal, a Fitch lembra que ficou claro que o país – reavaliado pela agência de A+ para A- no dia de arranque do Conselho Europeu, a 24 de Março – “não foi mencionado nas conclusões da cimeira, contrastando com o elogio que o Governo do país recebeu na reunião do Eurogrupo a 11 de Março, pelas medidas financeiras e estruturais adicionais”, nesse dia anunciadas pelo ministro das Finanças, Teixeira dos Santos.

Se a cimeira de quinta e sexta-feira representou “um passo em frente na resposta política à actual crise e à implementação de um regime permanente de ‘resolução da crise’”, nota a Fitch, “só a conjugação de uma recuperação económica sustentada e a consolidação orçamental vão dar confiança firmemente para a solvência a longo prazo” de Portugal, Espanha, Grécia ou Irlanda, referidos indirectamente pela agência quando fala nos países periféricos da zona euro.

E o facto de a cimeira também não ter melhorado as perspectivas de que este grupo vai garantir o acesso aos mercados de crédito a partir de 2013, não contribuiu para a estabilização do perfil destes países perante os mercados de crédito e para os seus ratings.

Para além do caso português, a Fitch chama a atenção para a situação irlandesa (actualmente avaliada pela agência em BBB+), sublinhando ser também facto de preocupação o falhanço de Dublin nas negociações com a União Europeia para reduzir os juros a pagar pelo montante emprestado ao país quando foi socorrido, em Novembro.

Espanha, com a notação AA+, mantém-se em perspectiva negativa, o que quer dizer que a Fitch pode vir a baixar o rating da dívida soberana do país vizinho, a qual dependerá da evolução do programa de reestruturação do seu sector bancário.

Quanto à Grécia, lembra que o Atenas conseguiu uma redução de cem pontos base na margem dos juros e a extensão dos prazos de empréstimo, uma confirmação do “forte empenhamento político [europeu] em relação ao programa grego” de austeridade. Mas sublinha: a dívida soberana da Grécia “a curto e médio prazo” continua sob pressão.