26.5.11

Ajuda aos países da Primavera Árabe na agenda da cimeira do G8

Por Maria João Guimarães, in Público on-line

Um compromisso para ajudar o Egipto e a Tunísia com verbas para impedir que dificuldades económicas dificultem o processo democrático deverá ser o principal tema na reunião dos países do G8, que se juntam hoje e amanhã em Deauville, na costa da Normandia.

Na agenda estarão a Primavera Árabe em geral (Líbia e Síria, para além de Egipto e Tunísia) e questões como a segurança nuclear. Espera-se ainda que o encontro seja dominado por conversas laterais sobre quem irá liderar o Fundo Monetário Internacional após a demissão de Dominique Strauss-Kahn.

O ponto alto da reunião deverá ser o "compromisso de Deauville", um pacote de ajuda económica e apoio político aos países árabes que derrubaram os seus líderes de há décadas. "Conseguir uma parceria estratégica com os países da Primavera Árabe vai ser a assinatura da cimeira", garantiu um responsável do Governo francês citado, sob anonimato, pelo Wall Street Journal. O Egipto e a Tunísia, convidados para o encontro, serão ouvidos numa sessão especial e deverão pedir ajuda na ordem dos 25 mil milhões de dólares (Egipto) e 12 mil milhões de dólares (Tunísia), segundo a Reuters.

Os dois países enfrentam dificuldades económicas, especialmente por causa da grande quebra no turismo, dificuldades que poderão prejudicar o processo democrático. O Presidente norte-americano, Barack Obama, anunciou na semana passada um plano para o Norte de África e Médio Oriente que começa com um perdão de mil milhões de dólares em dívida do Egipto e uma ajuda de outros mil milhões.

Não era claro se o plano do G8 iria definir quantias - antecipava-se que seria difícil conseguir um compromisso concreto devido às dificuldades económicas dos países. Certo é que uma das principais ideias será envolver o Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, que ajudou na liberalização das economias de alguns dos países de Leste após a queda da Cortina de Ferro.

A operação da NATO na Líbia deveria ser um ponto de discussão. Cinco membros do G8 (EUA, França, Reino Unido, Itália e Canadá) estão envolvidos na missão militar, a que a Rússia se opõe. E há também a pressão sobre a Síria feita pela UE e ONU; mais uma vez, algo que Moscovo não partilha.

Quanto à nova direcção do FMI, onde se destaca a candidatura oficial da antiga ministra francesa Christine Lagarde (ver pág. 22), os países do G7 (G8 excluindo a Rússia) tentarão evitar dar a impressão de que estão a fabricar um acordo, quando os países dos chamados BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) se opõem a um novo líder europeu para o organismo. Além disso, o G20 é o fórum para a discussão de questões económicas internacionais - o G8 deveria focar-se apenas em questões de segurança e geopolíticas. Mas, admitia um responsável sob anonimato à Reuters, "qualquer decisão deverá ser tomada pelos países do G7, porque os BRICS não se conseguiram unir para apoiar um candidato comum".

Já entre os europeus as discordâncias deverão surgir, quando se debater a segurança nuclear. A França, que obtém grande parte da sua energia da energia atómica e exporta o seu know-how nuclear para todo o mundo, tenta evitar consequências do desastre de Fukushima, enquanto Itália e Alemanha estão a rever os seus programas atómicos.