25.9.11

A pobreza é selo de vergonha (ou da falta dela) de quem governa um país

Texto Eduardo Santos, in Fátima Missionária

A pobreza é apenas uma das vertentes da injustiça social, mas porventura das mais sentidas pelas pessoas na medida em que mexe com a sua a qualidade de vida, ou mesmo a própria sobrevivência. Os povos têm os seus governantes, eleitos ou impostos, consoante os países, mas há um denominador comum em quase todos eles: utilizam-se das pessoas para os seus interesses pessoais ou partidários, quando a sua obrigação é servir o bem comum. É contra esse sentido de falta de missão dos governantes que temos de clamar, é uma questão de injustiça social que atinge os mais fracos, aqueles que não conseguem fazer ouvir a sua voz e ver respeitados os direitos, enquanto seres humanos, seja em democracia ou não.

É com agrado que começamos a ouvir altos responsáveis da hierarquia eclesial a pronunciarem-se contra esse estado de coisas, mais uns que outros, mas todos nós devemos ter presente a doutrina social da Igreja e a sua aplicabilidade prática. A Igreja respeita em demasia o poder e os poderosos, quando Cristo sempre tomou o partido dos mais fracos (quase todos os ensinamentos vão nessa linha). É evidente que isso traz muitos dissabores, mas a missão da Igreja é mesmo essa: estar ao lado dos mais fracos e ajudá-los a fazer o caminho de vida, por que sem amor não há salvação. Cristo disse: "Felizes os pobres, por que deles é o Reino de Deus", mas tal deve ser encarado como iniciativa de salvação, uma manifestação incondicional do amor divino.



O que se está a verificar no nosso país é grave e vai afectar quase tudo e todos. O país foi mal gerido durante dezenas de anos e são poucos os políticos que fizeram parte dos últimos Governos que não têm responsabilidades disso. Não temos qualquer dúvida de que a história os julgará um dia, caso tal não seja feito agora ou nos tempos mais próximos. As eleições que ditaram um novo Governo vieram trazer alguma esperança, mas o mal está feito e a primeira coisa a fazer é corrigir o erro dos excessos que nos levaram a esta situação. Há muita coisa a mudar e a principal será a mentalidade das pessoas. Há necessidade de criar uma consciencialização de solidariedade que terá de ser transversal a toda a sociedade portuguesa.



Qual o papel do Estado, da Igreja e cada um de nós, nas actuais circunstâncias? Em momentos de dificuldades é que se pode apreciar as qualidades do homem para as vencer ou ultrapassar, por isso há que arregaçar as mangas e recomeçar de novo. O Governo precisa de implementar novas políticas, sobretudo tendo em conta que aquilo que faz tem um destinatário: as pessoas. Cumprir o acordo feito com a União Europeia, mas nunca perdendo de vista a justa repartição de sacrifícios. A Igreja aproximar-se fraternalmente dos mais desfavorecidos e servir de "amparo e guia" de todos que lutam por uma vida melhor. Quanto a todos nós temos de acreditar e lutar ao lado dos outros, procurando na mútua solidariedade encontrar os meios de não perder a fé em Deus e nos homens.