23.12.11

"Aumento da austeridade vai agravar desigualdades" em Portugal

in Jornal de Negócios

"Financial Times" aproveita frase de António Barreto para titular uma reportagem onde dá conta do aumento da pobreza no país e a perspectiva que a desiguldade, já a mais elevada da Europa, vai subir ainda mais no próximo ano.

“Penso que no próximo ano, a desigualdade em Portugal será ainda maior do que é hoje”, afirmou António Barreto ao jornal britânico, assinalando que esta tendência é explicada sobretudo pelo aumento do montante mínimo a partir do qual os rendimentos são tributados e cortes dos subsídios de desemprego e outros apoios sociais.

Citando estudos da OCDE e de outras organizações, o “Financial Times” afirma que Portugal é o país europeu onde existe uma maior desigualdade entre pobres e ricos, constatando também que em Portugal existem cada vez mais “novos pobres”: os que obtém rendimentos que não os qualificam para obter apoios sociais, mas que não conseguem fazer face aos aumentos dos custos com a habitação, educação e saúde.

As conclusões do estudo que o instituto britânico ISER efectuou para a Comissão Europeia apontam para que as medidas de austeridade implementadas em 2010 penalizaram mais os pobres do que os ricos em Portugal. Se entre 2004 e 2008 a desigualdade diminuiu em Portugal, o FT diz que estão agora a crescer as preocupações que, tal como no ano passado, a tendência seja para o agravamento da distância entre pobres e ricos no próximo ano.

A reportagem do FT cita vários casos de portugueses que recorrem a instituições de solidariedade social, como Teresa Ramos, que tal como o marido está desempregada, recebendo ambos 300 euros mensais de apoios sociais. O jornalista aproveita o espaço físico onde falou com Teresa Ramos para ilustrar a desigualdade em Portugal. A entrevista foi feita junto a um moderno hospital privado (Hospital da Luz), ruas cheias de carros (Segunda Circular), um grande centro comercial (Colombo) e um Estádio de Futebol com 65 mil lugares (Estádio da Luz), “construído quando Portugal estava a emergir de uma recessão”.

Isabel Jonet, do Banco Alimentar, diz que o aumento do número de “novos pobres” representa “um risco muito sério” em Portugal, considerando que estas pessoas até podem sofrer mais do que os que estão abaixo do limiar da pobreza, pois não estão habilitados a receber apoios sociais do Estado.

“Mais de um milhão de idosos recebe uma pensão inferior a 280 por mês”, lembra Jonet, concluindo que “não se consegue sobreviver” com este rendimento e acrescentando que quem recebe “mais de 620 euros por mês é incluído na classe média para efeitos fiscais”.

De acordo com António Barreto, a desigualdade em Portugal é explicada, em parte, pelo facto de “lobbies” bem organizados, como os médicos, juízes e professores, ficarem “com a maior fatia do bolo”.