25.3.12

Solidariedade também é investimento

Catarina Madeira, in Económico online

Os “Doutores Palhaços” são artistas profissionais que se deslocam aos hospitais.

Investir em vez de subsidiar é o princípio da Fundação EDP, que apoia 115 projectos. Para 2012, já há 1125 candidatos.

Perante as dificuldades, há duas formas de fazer parte da história: assistir ou agir. Todos os dias, há cidadãos que não aceitam ficar de braços cruzados e encontram uma forma de fazer a diferença. É dessas pessoas solidárias e com iniciativa que se faz o Terceiro Sector. São organizações que têm um objectivo público mas não dependem do Estado, são privadas mas não têm fins lucrativos.

Apesar da vontade e da determinação das pessoas envolvidas, o acesso ao financiamento continua a ser o maior obstáculo para que os projectos consigam ver a luz do dia e produzam a riqueza social que está na sua génese. É aqui que as empresas podem assumir um papel determinante. Cabe ao sector privado decidir se quer liderar a transformação social "que será determinante para a sustentabilidade do negócio", defende Sérgio Figueiredo, administrador-delegado da Fundação EDP, que apresentou as contas de 2011 e as actividades para 2012 no passado dia 16 de Março.

Nos últimos oito anos, o programa EDP Solidária apoiou 115 projectos, desde pequenas Instituições Privadas de Solidariedade Social (IPSS), que desenvolvem projectos localizados a entidades com presença a nível nacional - como a Operação Nariz Vermelho, que no ano passado marcou presença em 12 hospitais de Lisboa, Porto, Braga e Coimbra (ver caixa). Para a edição de 2012, já há 1125 candidatos e uma dotação de 500 mil euros.

"Não precisamos de caridade, mas de responsabilidade. Quem nos apoia deve exigir transparência e profissionalismo em troca, só assim abriga os projectos a serem viáveis e a crescerem", defende Beatriz Quintella, responsável pela Operação Nariz Vermelho, um dos projectos apoiados pela Fundação EDP.

O princípio da instituição é investir em vez de subsidiar, uma lógica que não só obriga os projectos a responderem com transparência e profissionalismo, como ajuda a garantir a sua viabilidade. O objectivo é contribuir para a inclusão social e minimizar os ciclos de pobreza.

O desafio que se coloca às empresas em geral ganha ainda mais importância num contexto económico como o actual, em que as necessidades sociais crescem a par com as dificuldades de financiamento. "É óbvio que não ficamos indiferentes ao contexto que nos rodeia e esse é um dos motivos pelo qual o apoio a este tipo de projectos é, cada vez mais, uma prioridade da nossa política de mecenato", diz Sérgio Figueiredo, revelando que, em 2011, o programa EDP Solidária recebeu mais de 700 candidaturas.

Com o foco em projectos que possam contribuir para a inclusão social e para minimizar os ciclos de pobreza, uma das preocupações da fundação tem sido fomentar o empreendedorismo. Por isso, duas das apostas de 2011 foram os cursos de empreendedorismo social IES e os programas de sustentabilidade rural em Trás-os-Montes e Alto Douro. "Arriscamos fórmulas que o Estado tipicamente não testa e que o mercado não viabiliza, porque não são rentáveis", continua o administrador-delegado da fundação.

As hortas comunitárias foram outro dos projectos em destaque no ano passado. Promovidas por várias juntas de freguesia e IPSS, estes projectos de micro-agricultura despertaram com a crise actual e procuram responder a carências que, até agora, os sistemas públicos cobriam. Nesta linha, surgiram ainda outras iniciativas como a Cozinha Com Alma, cujo objectivo é suprir as necessidades alimentares dos novos pobres, famílias da classe média e média/baixa que deixaram de conseguir fazer face às suas necessidades mais básicas.


Operação Nariz Vermelho

Marca presença em 12 hospitais do país
A "Operação Nariz Vermelho" é uma Instituição Particular de Solidariedade Social que intervém dentro dos serviços pediátricos de 12 hospitais portugueses em Lisboa, Porto, Braga e Coimbra, através da visita de palhaços profissionais. O objectivo é "iluminar a vida das crianças e das famílias", resume Beatriz Quintella, responsável pelo projecto, que este ano faz dez anos. A operação visita todos os anos 40 mil crianças, num trabalho que envolve 31 profissionais remunerados. "Não podemos ter voluntários porque precisamos de profissionais que possam desempenhar um trabalho que é muito exigente", explica a responsável, acrescentando que "cada criança espera o palhaço todas as semanas à mesma hora. É uma exigência muito grande". O projecto, que recebeu o Prémio Direitos Humanos da AR, tem o apoio da Fundação EDP, da Fundação Luís Figo, da Câmara de Cascais e da Accenture.


Cozinha com Alma

Distribui 20 refeições diárias a sete famílias
O projecto "Cozinha com Alma", em Cascais, é uma iniciativa de uma associação sem fins lucrativos que pretende dar resposta com um serviço que fornece refeições a famílias de classe média e média/baixa em situação de vulnerabilidade que tenham sido identificadas pelas comissões sociais de freguesia. O apoio tem uma duração máxima de seis meses, é atribuido primeiro a famílias com filhos e divide-se em três escalões. Cada agregado tem direito a uma refeição diária completa. A cozinha está aberta ao público em geral e as receitas da venda de refeições revertem a 100% para uma bolsa social. Joana Castella, uma das fundadoras do projecto, explica que o objectivo é ser "um balão de oxigénio" para a "pobreza envergonhada", por isso, cada família usa um cartão (igual para os escalões e público em geral) que não revela a ajuda que recebe.


Projeto Marias

Já colocou empregadas domésticas em 30 casas
O Projeto Marias faz a ponte entre as empregadas domésticas, mulheres de meios desfavorecidos, e clientes. O objectivo final é autonomizar as "Marias", em dois anos. O modelo foi desenhado para ser auto-sustentável financeiramente quando atingir as 62 empregadas e os 171 clientes. As mulheres integradas no projecto, sediado na Amadora, trabalham com contrato e salário e a instituição auxilia no recrutamento. Gustavo Brito, mentor da iniciativa, acrescenta ainda que o projecto apoia a avaliação e o ‘coaching', com ‘feedback' periódico, e facilita os aspectos administrativos que são da responsabilidade dos clientes. "É, acima de tudo, um modelo de meritocracia, para pessoas que deveriam estar empregadas", diz, acrescentando que não é solução para todos os problemas mas permite uma estabilidade laboral e financeira importante para a família".