24.4.12

Para as portuguesas a violência doméstica é crime

in Público on-line

Um estudo sobre as percepções de diferentes comunidades em Portugal sobre violência doméstica revelou que apenas as mulheres portuguesas consideram que é crime, enquanto um quarto dos ucranianos inquiridos disseram desconhecer o seu significado.

O estudo “Violência doméstica: Percepções de diferentes comunidades em Portugal”, divulgado no congresso da Ordem dos Psicólogos, que decorre até sábado em Lisboa, pretendeu comparar o modo como as comunidades brasileira, ucraniana, cabo-verdiana e portuguesa vêem o fenómeno da violência conjugal.

A coordenadora do estudo, Joana Alexandre, adiantou que o objectivo foi verificar se existem diferenças de género e entre as quatro comunidades em torno deste fenómeno e “se existe interseccionalidade entre género e comunidade”.

O estudo envolveu 260 participantes – a maioria homens (52%) –, dos quais 76 são portugueses, 64 ucranianos, 61 brasileiros e 59 cabo-verdianos.

A ideia de que a violência doméstica é um crime é apontada apenas pelas mulheres (23,3%) e homens (12,1%) portugueses.

Segundo o documento, 31,9% dos inquiridos consideram que a violência doméstica é a agressão física e psicológica, um motivo apontado por 44,8% das mulheres e 43,3% dos homens cabo-verdianos, 24,2% dos ucranianos e 27,3% dos portugueses.

Este motivo também é referido por 62,5% de brasileiras e por 37,9% de brasileiros. Para 27,6% dos homens desta comunidade, trata-se de “falta de respeito”.

Para 19,4% das ucranianas, violência doméstica é “tratar mal alguém” e 38,7% preferiu não responder a esta questão.

Já 18,6% das portuguesas inquiridas consideram que este fenómeno é “falta de respeito” e 18,2% acha que é sinónimo de “tratar mal alguém”.

“Em termos dos resultados mais quantitativos salienta-se que as mulheres percepcionam como mais agressivos ou violentos, por comparação com os homens, um conjunto de comportamentos que visam a manutenção de poder e controlo”, disse Joana Alexandre, docente do Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, de Lisboa.

A inbvestigadora adiantou que as portuguesas são as que percepcionam como “mais agressivos ou violentos” os comportamentos que visam a manutenção de poder e controlo, e a comunidade ucraniana, sobretudo os homens, a que os considera “menos agressivos ou violentos”.

Sobre a maneira de agir, no caso de ser vítima, são as portuguesas que tendencialmente dizem que recorreriam mais a serviços de apoio (associações de vítimas, polícia, etc.). No lado oposto, estão os homens portugueses e ucranianos, revelou Joana Alexandre.

“Em termos de coping de evitamento-passividade (exemplo separar-se por uns tempos ou não fazer nada) são os ucranianos, principalmente as mulheres, que dizem que recorreriam mais a esta forma de lidar em caso de serem vítimas”, acrescentou.

As autoras do relatório defendem a realização de estudos futuros para averiguar o papel do processo de aculturação/anos de residência no país de acolhimento e em que medida as questões da legalização interferem no modo de lidar quando se é vítima.