28.4.12

Portugueses "riem para não chorar" no Dia Mundial do Riso

in Jornal de Notícias

A crise que o país atravessa é um motivo para os portugueses procurarem cada vez mais o humor e abstraírem-se das dificuldades, consideram alguns humoristas, cujo trabalho atravessa uma fase de expansão.

Nuno Artur Silva, fundador e diretor da agência criativa Produções Fictícias, disse à agência Lusa que se assiste a "um verdadeiro 'boom' do humorismo, tanto na escrita, com muito mais autores, mas também atores, e de procura por parte do público, que tem mais necessidade de abstrair-se da crise".

Já o humorista Eduardo Madeira, que integra o elenco do programa televisivo "Estado de Graça", afirmou que "há público para o humor e que é nas situações de crise que mais procuram o humor, para exorcizar os problemas. Rir para não chorar".

Eduardo Madeira diz que a crise não tem afetado o trabalho dos humoristas, porque há muita oferta e "as salas estão sempre cheias", mas Nuno Artur Silva alerta, por outro lado, que "há menos trabalho nos media, e menos publicidade, que está a afetar todas as áreas".

As Produções Fictícias trabalham com cerca de 40 autores na área do humor, como Nuno Markl, Ricardo Araújo Pereira e Luís Pedro Nunes.

"Antigamente existiam muito poucos canais de comunicação, apenas as televisões generalistas. Hoje em dia, com a Internet, o YouTube e os canais de televisão por cabo, há muito mais possibilidades de difundir humor e ter acesso", sublinhou Nuno Artur Silva.

O diretor criativo da Produções Fictícias indicou que os programas de humor são os mais procurados entre os vários conteúdos do seu canal "Q", que detêm na televisão por cabo, mas o mesmo acontece nas televisões generalistas, na rádio, com o "Tubo de Ensaio", na TSF, e em espetáculos de palco em Lisboa e um pouco por todo o país.

"O mesmo se tem verificado noutros países: quando a crise se agrava, as pessoas têm necessidade de mais humor, de se rirem, e tanto no humor mais escapista - o dos apanhados - como o inspirado na atualidade, nas declarações de políticos", avaliou.

Da experiência que ganhou tanto no palco como nos programas televisivos, Eduardo Madeira admitiu que "não é fácil fazer rir os portugueses, porque não são muito abertos no que toca à auto-análise. Só se riem de si próprios sem se aperceberem, acham que o humor é só sobre os outros".

Quanto ao impacto da crise nas Produções Fictícias, o fundador diz: "Não nos podemos queixar. Mantivemos mais ou menos o nível de trabalho e até aumentámos por causa do canal Q [por cabo]. E há muitas parcerias. O problema é a diminuição da publicidade, que nos afeta indiretamente".

E Eduardo Madeira deixa a receita para fazer bom humor: "A melhor coisa que um humorista pode fazer é observar as pessoas. Elas dizem coisas e têm reações muito melhores do que qualquer 'brainstorming', seja no café ou nos cinemas. São uma fonte inesgotável".