29.5.12

Dezenas de milhões de crianças vivem na pobreza nos países ricos

in UNICEF

Num momento em que as medidas de austeridade e de redução de gastos sociais estão no centro dos debates, um novo relatório revela a extensão da pobreza infantil e das privações sentidas pelas crianças nas economias mais avançadas. Cerca de 13 milhões de crianças que vivem na União Europeia (e também na Noruega e Islândia ) não têm acesso a elementos básicos necessários para o seu desenvolvimento. Paralelamente, 30 milhões de crianças vivem na pobreza em 35 países economicamente desenvolvidos.

O Report Card 10, produzido pelo Gabinete de Investigação da UNICEF, debruça-se sobre a pobreza e privação infantis no mundo industrializado, comparando e alinhando os países de acordo com o seu desempenho.

Esta comparação internacional mostra que a pobreza infantil nestes países não é inevitável, mas antes susceptível a políticas postas em prática – e que alguns países estão a conseguir melhores resultados do que outros na protecção das suas crianças mais vulneráveis.

“Os dados disponíveis provam que um número demasiado elevado de crianças continua a não ter acesso a variáveis de base em países que têm meios para as proporcionar, “ declarou Gordon Alexander, Director do Gabinete de Investigação da UNICEF. ”O relatório mostra igualmente, segundo dados recolhidos maioritariamente antes da crise actual, que alguns países registaram bons resultados graças a sistemas de protecção social que estavam a funcionar. O risco é que no contexto da actual crise sejam tomadas decisões erradas, cujas consequências só serão visíveis muito mais tarde.”

O Report Card 10 analisa a pobreza e privação infantis sob dois ângulos diferentes. Examinando estes dois tipos de pobreza, o Report Card 10 reúne os últimos dados disponíveis relativos a esta matéria no conjunto dos países industrialmente mais avançados.

A primeira avaliação utiliza o Índice de Privação Infantil, que se baseia em dados das Estatísticas da União Europeia sobre Rendimento e Condições de Vida (Eurpean Union’s Statistics on Income and Living conditions) de 29 países europeus, que incluem pela primeira vez uma secção consagrada às crianças.

O Report Card 10 designa como “carenciada” uma criança que não tem acesso a duas ou mais das 14 variáveis de base, tais como três refeições por dia, um local tranquilo para fazer trabalhos de casa, livros educativos em casa, ou uma ligação à internet. A Roménia, A Bulgária são os países que apresentam as taxas de privação mais elevadas (70%, 50% respectivamente) seguidos por Portugal com uma taxa de 27%. No entanto, mesmo alguns países mais ricos como a França e a Itália tenham taxas de privação superiores a 10%. Os países nórdicos são os que apresentam níveis de privação mais baixos, todos eles inferiores a 3%.

A segunda medida analisada no Report Card 10 diz respeito à pobreza relativa e calcula a percentagem de crianças que vivem abaixo do “limiar de pobreza” – definido como 50% do da mediana do rendimento disponível por família.

Assim, o Gabinete de Pesquisa da UNICEF procura determinar a percentagem de crianças que se encontram significativamente abaixo do que pode ser considerado normal para as respectivas sociedades.

Os países nórdicos e a Holanda têm as mais baixas taxas de pobreza infantil relativa – próximas dos 7%. A Austrália, o Canadá a Nova Zelândia e o Reino Unido têm taxas entre os 10% e os 15%, enquanto que mais de 20% das crianças na Roménia e nos Estados Unidos vivem em situação de pobreza relativa.

A comparação entre países economicamente semelhantes é particularmente notória no Report Card 10, o que revela até que ponto as medidas adoptadas pelos governos podem mudar a vida das crianças. Por exemplo, a Dinamarca e a Suécia registam taxas de privação nas crianças bem mais baixas do que a Bélgica ou a Alemanha, ainda que estes quatro países tenham níveis de desenvolvimento económico e rendimentos per capita muito semelhantes.

“O relatório torna claro que alguns governos conseguem muito melhores resultados do que outros no combate ao problema da privação das crianças”, afirmou Gordon Alexander. “Estes países mostram que a pobreza não é inelutável apesar do contexto económico actual. Em contrapartida, não proteger as crianças dos efeitos da crise económica e financeira dos dias de hoje é um dos erros mais caros que uma sociedade pode cometer.”