30.5.12

"Só a austeridade não é solução para Portugal"

in Diário de Notícias

Tajani é vice-presidente da Comissão Europeia e comissário europeu para a Indústria. Fotografia © ReutersO vice-presidente da Comissão Europeia e comissário Europeu para a Indústria, Antonio Tajani, considerou hoje, em entrevista à Lusa, que Portugal e os outros países europeus precisam de aliar a austeridade ao crescimento para saírem da crise.

"Só a austeridade não é a solução para Portugal. É necessário austeridade e crescimento, porque sem uma política forte em favor das pequenas e médias empresas, a favor da economia real, será muito difícil bater a crise. Só a austeridade não é uma boa solução, não só para Portugal, mas em todo o lado, incluindo na Grécia", disse Tajani, um dos cinco vice-presidentes da Comissão Europeia.

"Não podem ser só sacrifícios. Sacrifícios, claro, são importantes para trabalhar contra o endividamento público, mas é necessário apoiar o segundo pilar que são as políticas fortes a favor da economia real, do mercado interno, das pequenas e médias empresas", insistiu o comissário italiano, que participou hoje na conferência "Missão-Crescimento - A Europa na Liderança da Nova Revolução Industrial".

A conferência teve como objetivo reforçar o debate sobre novas estratégias de crescimento na Europa, apostando na inovação ligada à indústria, para promover o desenvolvimento tecnológico do setor industrial e o sistema de inovação na Europa.

"É preciso uma estratégia que marque o caminho para a terceira revolução industrial", frisou o comissário, destacando os planos de ação que a comissão europeia prepara para o próximo mês para o setor da construção civil e da indústria automóvel.

Para Portugal, Tajani considerou ser necessário apoiar o setor do turismo, para além de outras áreas da economia.

"O turismo é um dos principais setores (...) é um setor fundamental que é necessário apoiar. Lado a lado com o turismo, temos o setor do imobiliário, da agroindústria, dos têxteis, também muito importante para Portugal", referiu.

O vice-presidente da Comissão Europeia defendeu ainda a necessidade de dar ao Banco Central Europeu (BCE) competências semelhantes às da Reserva Federal dos Estados Unidos, sobretudo no que toca ao estímulo do crescimento económico, expandindo o atual mandato do banco, que tem como principal missão manter a inflação em níveis baixos.

"O BCE está a trabalhar muito bem contra a inflação mas se quisermos, como objetivo final, os Estados Unidos da Europa, tal será muito difícil sem um banco central que não tenha o papel formal de apoiar o crescimento", referiu, frisando que se trata de uma "posição pessoal".

"A minha posição pessoal é que, se o nosso objetivo são os Estados Unidos das Europa, e se queremos atingir esse objetivo, é importante ter uma política europeia de crescimento, uma política europeia contra a dívida pública, uma política externa e uma política de defesa", disse ainda o comissário italiano.

Tajani destacou, assim, o papel que um BCE com poderes reforçados de estímulo ao crescimento poderia ter para apoiar o euro e a economia europeia.

"Na atualidade, as nossas regras dos banco central só funcionam no que toca a inflação e à estabilidade de preços, não temos poder para apoiar o crescimento. É importante, por isso, mudar e melhorar, esta política, para um banco central com poderes semelhantes aos da Reserva Federal americana", concluiu.