20.9.12

«Desemprego entre jovens é 30%: há falta de jovens?»

Rita Leça, in TVI24

Ter filhos é, antes de mais, uma decisão económica. Que sociedade queremos ou podemos construir?

«Quando dizem que há falta de jovens eu questiono-me: Temos 30% de desemprego entre os jovens. Isso quer dizer que também não há assim tanta falta de jovens». A opinião, irónica, é de Pedro Telhado Pereira, economista da Universidade Católica, quando falava na Conferência sobre trabalho e fecundidade no encontro «Presente no Futuro», que decorre até amanhã no CCB.

Na sua intervenção, Pedro Telhado Pereira defendeu que a atual situação económica - «crise, desemprego, desigualdades» - conduz Portugal «por um mau caminho».

Para o economista, «o ideal seria cada mulher ter 3 filhos para equilibrar» a sociedade, mas, estatísticas à parte, «toda a gente sabe que os contratos a prazo prejudicam a fecundidade. Uma mulher sabe que o seu contrato não será renovado se estiver grávida».

De facto, comprovou, por sua vez, Alexandre Quintanilha, físico e catedrático, a população mundial «está a crescer menos» - «com uma taxa média de 2,3% há quatro anos para os atuais 1,2%» - e, talvez por isso, haja ainda o que o especialista classifica como um «sentimento de culpa insultuoso e cruel» para com «todas as mulheres que adiam a sua maternidade ou não querem ter filhos».

«As pessoas só se querem realizar. As que querem ter filhos devem poder tê-los. Mas, hoje em dia, há muitas outras formas de mulheres e homens se sentirem realizados».

Mais do que as questões demográficas, o que preocupa Alexandre Quintanilha são as questões da sustentabilidade do planeta e dos custos da alimentação no futuro. Por isso, o físico apelou: «Mas importante do que se focar na quantidade das pessoas, é preciso apostar na qualidade de vida das pessoas que vivem neste planeta finito».

E se antes «eram as classes trabalhadoras que tinham mais filhos, porque não o conseguiam evitar. Agora ter filhos é uma questão financeira e é a classe alta que tem mais filhos do que a média da sociedade», disse, por sua vez, Pedro Telhado Pereira.

Já Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar contra a Fome, assumiu a felicidade com os seus cinco filhos e deixou a hipótese: «Talvez as mulheres tivessem deixado de ter tantos filhos para provar que são iguais aos homens. Mas as mulheres são diferentes dos homens».

Mais do que questionar o porquê das coisas, Isabel Jonet defende que uma discussão conjunta: «Temos de definir que tipo de sociedade queremos. Serão necessários muito mais filhos?».

A responsável pelo Banco Alimentar contra a Fome defendeu, antes de mais, que «as pessoas têm de dar a si próprias tempo», perceber que «o tempo é um bem escasso» e perceber o que querem fazer da vida e qual a melhor forma para viver e educar, porque, entende Jonet, «estamos cada vez mais sozinhos».