11.12.12

"Deixámos que a família se desprestigiasse"

por Ana Carrilho, in RR

Mónica Leal da Silva, autora do livro “A crise, a família e a crise da família", alerta para a perda do sentido de lealdade e compromisso no seio da instituição familiar.

A família já estava em crise antes dos problemas económicos baterem à porta. Há valores que já tinham sido postos em causa, como a lealdade, a fraternidade e o compromisso, diz Mónica Leal da Silva.

A autora do livro “A Crise, a Família e a Crise da Família", que vai ser apresentado esta terça-feira, patrocinado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, considera que a sociedade deixou que a família se desprestigiasse.

“Quando falo de crise da família, é principalmente a crise da lealdade na família, a crise do compromisso na família, que unia as pessoas na família. É uma crise que tem a ver com valores, tem a ver com os abandonos, os abandonos de vária ordem. Aquilo que me ocorre imediatamente quando falo na crise da família é, sobretudo, o facto de termos deixado que a família se desprestigiasse”.

“O trabalho tem todo valor”
A autora de “A Crise, a Família e a Crise da Família” valoriza os compromissos e considera que eles foram sendo ultrapassados. As pessoas distraíram-se com o consumo e o comodismo instalou-se, sustenta.

Mónica Leal da Silva considera que a crise obriga a repensar as prioridades, embora, para alguns, até isso se torne difícil porque já estão a sofrer. Por isso, acredita que a ligação aos outros é importante e que o trabalho tem que ser valorizado.

“Acredito que a nossa ligação aos outros nos ajuda a suportar o sofrimento, quando ajudamos os outros também nos ajudamos a nós próprios, que o nosso sentido da vida tem mais a ver com isso do que com outras coisas. O trabalho tem todo valor, não apenas o trabalho que é emprego e tudo o que pudermos fazer pelos outros é muito melhor do que ficarmos deprimidos na cama.”

O trabalho contra a depressão, num país que Mónica Leal da Silva considera que tem pouca esperança, porque as pessoas, apesar dos sacrifícios a que estão a ser sujeitas, não sabem quando é que a crise vai acabar.

Defende que o trabalho, mesmo que não seja um emprego, mas, por exemplo, em regime de voluntariado, contribui para a auto-estima dos indivíduos e isso tem reflexos na vida familiar.

Ao longo de 90 páginas, a autora relata a sua experiência na América e compara com o que se passa em Portugal, que acompanha à distância e sublinha que, sobretudo em tempos de crise, a família é essencial.