25.3.13

FMI. Evolução de Portugal entre “muito pior” e “muito desapontante”

Por Filipe Paiva Cardoso, in iOnline

O comportamento do desemprego “foi muito pior que o esperado”e o ataque às rendas excessivas tem sido “muito desapontante”

O chefe da missão do FMI a Portugal está desiludido. Não só porque a receita da austeridade resultou num nível mais elevado de desemprego que o previsto - “é mesmo muito pior que o esperado” - mas também porque o outro lado da moeda do programa está com resultados sofríveis: os preços das telecomunicações e da electricidade, assim como de outros sectores, que a troika prometeu que iam cair, estão a subir. “Muito desapontante”, avançou Abebe Selassie. Como dar a volta? Não adiar prazos para o ajustamento.

“Penso que a única forma duradoura de criar os empregos, que Portugal tão desesperadamente precisa, é realmente tentar completar o processo de ajustamento tão rápido quanto possível, e estabelecer as bases para o crescimento sustentável. Não podemos perder de vista que o princípio base do programa é fazer regressar Portugal a uma situação fundamentalmente melhor do que a que estava quando a crise começou”, apontou Selassie em entrevista à Lusa. Quanto à responsabilidade das sucessivas rondas de austeridade promovidas no país desde meados de 2011 no aumento do desemprego acima do esperado, nada foi dito.

Por outro lado, as reformas estruturais que a troika e o governo PSD/CDS iam pôr em marcha e que iriam servir para recolocar o país na rota de crescimento, estão também com resultados decepcionantes. “Penso que o principal objectivo para os preços da electricidade, das telecomunicações e de outros sectores não transaccionáveis é se estão em linha ou começam a cair à medida que a concorrência aumenta ou a procura diminui. Até agora não o estamos a ver e isso é muito desapontante.” Quanto a apontar dedos, nada dito, até porque o FMI defende que o governo fez o que pôde: “Um primeiro conjunto de reformas foi acordado e realizado ao abrigo do programa no ano passado. Não foram até onde gostaríamos que tivessem ido, mas o governo tentou fazer o máximo que podia face a todas as considerações que tinha de tomar”, disse. Por causa desta ineficiência nas reformas, a repartição do esforço do ajustamento continua por ser conseguida em Portugal: “É muito importante que o debate sobre as rendas excessivas em algumas áreas seja revisitado. Este é um aspecto muito importante para garantir a justa repartição do ajustamento.”

O responsável do FMI disse ainda que uma das grandes motivações da revisão das metas do défice deste ano, para 2014 e para 2015 - que na prática acaba por resultar em mais um ano para reduzir o défice - se deve em grande parte à necessidade de evitar colocar mais pressão sobre o emprego. “O resultado do desemprego é muito infeliz, é mesmo muito pior que o esperado. É exactamente devido a isto que as metas do défice estão a ser revistas, devido à preocupação de tentar evitar mais pressões sobre o emprego”.

Sobre as mudanças nas indemnizações por cessação de contrato de trabalho que ficaram acordadas, Selassie fez questão de sublinhar que a troika tem mostrado pragmatismo e flexibilidade, e como tal aceitou uma proposta para fasear a redução de 20 para 12 dias.