2.8.13

Filhos - As novas armas de arremesso

Sofia Rijo (sapato nº39), in Expresso

Sempre achei que a arma de arremesso mais básica e rudimentar, existente ao cimo da Terra, era a fisga. Enganei-me, a mais atual e letal arma utilizada são os filhos. Pior que tudo, são eles quem mais sofre direta e indiretamente, com danos diretos e colaterais, porque os pais, infelizmente, não conseguem separá-los da frustração de uma relação que chegou ao fim. Na maior parte das vezes esquecem-se que o único elo que ainda mantêm, os filhos, fica violentamente exposto a lutas, guerras, gritos, discussões e, pior de tudo, a impossibilidade e de sociabilizar e conhecer verdadeiramente um dos seus progenitores, e de usufruir do amor de um deles.

Sinceramente, e perante as realidades a que assisto todos os dias, não sei se será pior o pai que abandona o filho, depois de separar-se da companheira, alienando-se de toda e qualquer responsabilidade, se a mãe que impede o filho de ver o pai, porque não concorda com a vida que este leva, se sente frustrada pela relação ter acabado ou por qualquer outra situação. Nada, mas mesmo nada, deveria dar-lhe o direito de impedir a criança de estar com o pai.

Situações (i)limitadas

São mais que muitas as situações, infelizmente mais do que as que deveriam existir, e são tristes, e que em nada abonam o sexo feminino. Tanto condeno um pai que abandona o seu filho, como a mãe que impede o pai de ver as suas crias. Sou mulher e também sou mãe, e acredito que não há amor maior que o nosso, ou não estivéssemos ligados àquele pequeno ser, a partilhar o mesmo corpo durante nove meses. Todavia, e acima de tudo,defendo que uma criança precisa de um pai e de uma mãe, estejam juntos ou separados.

Eles, os pais, também vivem a experiência, de forma diferente é um facto, mas vivem, e se muitos há que abandonam, ignoram os recém-nascidos e até têm medo de pegá-los ao colo com receio que estes se quebrem, outros há que são verdadeiras "mãezonas" que muitas vezes assumem as rédeas da paternidade, quando as mães passam por situações mais difíceis. Sim, a depressão pós-parto e os descontrolos hormonais existem e são violentos, mas não duram para sempre.

Sem rasto de esperança

Deixam-me infelizes casos de mães que desapareceram, sem deixar rasto, com os filhos, ou que os pais apenas conseguiram voltar a ver a sua prole quando se fizeram acompanhar da polícia, às vezes anos depois destes terem nascido. Fico revoltada quando oiço casos de mulheres que continuam a cair na triste ilusão de que um filho prende um homem a uma relação, quando o que acontece, sobretudo no primeiro ano (o grande desafio) é precisamente o contrário, e que se a relação estava pelas ruas da amargura, não será esta a solução.

Fico triste quando oiço dizer que a mãe começou a impedir o pai de ver a criança, a trocar fins-de-semana e visitas determinadas pelo tribunal, agindo de forma ilegal e ainda a utilizar a chantagem, no sentido obter pensões de alimentos exorbitantes.

Deixo aqui apenas um apelo à reflexão: saberão estes pais e estas mães que, acima de tudo, estão a fazer mal aos seus filhos? Que não os estão a proteger? Que estão a criar-lhes uma visão distorcida da vida, da sociedade e do verdadeiro sentimento que é o amor? É que deveria ser exatamente o contrário, porque aquele ser confuso que ali está, sofre e muito, quando ouve os pais aos gritos e a ofenderem-se mutuamente. Basta pensar que este nasceu e foi concebido, nem que por momentos, através de um ato de amor. Se o amor acabou entre os pais, estes não podem acabar com o amor com e pelos filhos, e isso depende de ambos!