19.9.13

Holanda diz adeus ao Estado social e entra no século xxi

Por António Ribeiro Ferreira, in iOnline

Governo de centro-esquerda abraça austeridade para 2014 e prepara os holandeses para o fim da sociedade do bem-estar

A boa ou má nova foi dada esta semana aos holandeses pelo novo rei Guilherme no parlamento. O Estado social acabou. A sociedade do bem-estar da segunda metade do século xx vai ser substituída pela "sociedade participativa", como frisou o monarca no discurso de abertura do ano político. Guilherme, como é tradição das monarquias, estava a apresentar o programa do governo de centro- -esquerda, formado por liberais e sociais--democratas, para 2014. Esta nova sociedade participativa do século xxi vai, obviamente, ter reflexos importantes na segurança social e nos apoios aos que mais necessitam de ajuda. O sistema actual, o Estado social nascido no pós-guerra, criou mecanismos que são insustentáveis para a economia actual. E a Holanda, um dos países mais ricos da Europa, quer resolver a crise quanto antes e preparar o Estado para os novos desafios.

A nova política aparece pela mão de um governo de centro-esquerda e tem números para 2014. A despesa do Estado leva um corte de seis mil milhões de euros, medida indispensável para o défice das contas públicas baixar para os 3,3% do PIB, três décimas acima do limite imposto aos países da moeda única. Os cortes vão ter efeitos no desemprego, que subirá para os 7,5%, e no poder de compra dos holandeses, que cairá 0,5% no próximo ano.

Mas na Holanda, como em Portugal, na Grécia, em Espanha e no conjunto da zona euro, as más notícias surgem sempre associadas a tímidos sinais positivos da economia, e as palavras de esperança, que os políticos adoram usar para convencer as populações das suas políticas, também surgiram nas bocas do primeiro-ministro liberal, Mark Rutte, e do seu aliado social-democrata Diederik Samsom. A economia holandesa pode crescer 0,5% em 2014, um sinal para os dois políticos falarem já no fim da crise económica. Nada de novo. Os discursos repetem-se em várias capitais europeias, mas foi em Haia que a realidade se impôs, talvez pela primeira vez, à ficção de um modelo de sociedade que se tornou insustentável.

80% contra os políticos Acontece que os liberais e os sociais-democratas - no fundo, o centro-esquerda - sempre atiraram pedras à austeridade e repetiram juras de amor eterno pelo Estado social. Agora, sentados no poder e com um país para gerir, abraçam a austeridade e renegam o Estado social. Em troca oferecem uma sociedade participativa que, na prática, reduz os benefícios e o bem-estar do tão afamado Estado social. O resultado junto dos holandeses não se fez esperar. Uma sondagem divulgada pela televisão pública revelou que 80% dos holandeses estão contra os planos governamentais e, mais do que isso, não acreditam que os políticos sejam capazes de resolver a crise. Com os políticos descartados, os holandeses voltam-se para o mundo empresarial e acreditam que a economia mundial, a globalização, será a chave para a resolução dos problemas do seu país. Crise económica, crise social e, claro, crise do sistema político. As velhas democracias europeias estão debaixo de fogo.