25.2.14

Mais de 300 mil portugueses com mais de 60 anos já foram vítimas de violência na família

in Jornal de Notícias

Um estudo sobre a violência revela que 12,3% da população portuguesa, com 60 ou mais anos - cerca de 314 mil pessoas -, foram vítima de, pelo menos, uma "conduta de violência" por parte de um familiar, amigo, vizinho ou profissional.

"Estimou-se que 123 em 1000 pessoas com 60 e mais anos foi vítima de alguma forma de violência (física, psicológica, financeira, sexual ou negligência)", referem as principais conclusões do estudo coordenado pelo Departamento de Epidemiologia do INSA, a que a agência Lusa teve acesso.

Dos cinco tipos de violência avaliados (física, psicológica, financeira, sexual ou negligência), destacam-se a violência financeira e a violência psicológica: 6,3% da população com 60 e mais anos (cerca de 160 mil pessoas), em ambos os casos, dizem ter sido vítima de, pelo menos, uma conduta destes tipos de violência.

Já 2,3% dos inquiridos (58 mil pessoas) foram vítima de, pelo menos, uma conduta de violência física.

Os crimes menos frequentes foram a negligência (0,4% da população com mais de 60 anos) e a violência sexual (0,2% ).

O projeto identificou diferentes agressores, de acordo com os tipos de violência.

Na violência financeira, os principais agressores foram os descendentes, nos quais se incluem filhos, enteados e netos, seguidos dos outros familiares, como cunhados, irmãos e sobrinhos.

São também outros familiares os principais agressores reportados pela vítimas de violência psicológica, seguidos dos cônjuges e de atuais e ex-companheiros.

Mais de metade das condutas de violência física foram da responsabilidade de cônjuges e de atuais ou ex-companheiros.

O "Estudo populacional sobre a violência", baseado numa amostra de 1123 pessoas, faz parte do Projecto Envelhecimento e Violência 2011-2014, do Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge (INSA), cujos resultados estão a ser divulgados e debatidos hoje, no seminário "Envelhecimento e Violência", que está a decorrer na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Este estudo teve como objetivo estimar a prevalência de pessoas com 60 e mais anos na população portuguesa sujeita a violência (física, psicológica, financeira, sexual e negligência), em contexto familiar, nos 12 meses anteriores à entrevista, assim como reconstituir a lógica e as condições de ocorrência de tais situações no contexto da vida familiar.

O número de vítimas de violência foi estimado com base num inquérito telefónico aplicado à população portuguesa com 60 e mais anos.

Para aprofundar o conhecimento constituiu-se paralelamente uma amostra de vítimas de crime e violência com 60 e mais anos, que foram sinalizadas pelas entidades parceiras.

O estudo adianta que, do total de vítimas, somente um terço denunciou ou apresentou queixa sobre a situação de violência vivida e, quando procurou ajuda, a maioria dirigiu-se às forças de segurança (PSP ou GNR).

Embora com menor frequência, as vítimas também denunciaram a sua situação de vitimização a elementos da rede social informal (familiares, amigos, vizinhos e colegas de trabalho) e a profissionais de saúde.

O Projeto Envelhecimento e Violência 2011-2014, do Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge, compreendeu ainda outro estudo sobre violência, também em contexto familiar.

Os dois estudos "são indicativos da relevância que o problema tem na sociedade portuguesa e os resultados demonstram que as vítimas de violência que residem na comunidade são sobretudo vítimas das famílias, seja alargada ou nuclear", refere o projeto.

O Projeto tem como entidades parceiras o Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa, com Instituto Nacional de Medicina Legal, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, o Instituto da Segurança Social e a GNR.