25.3.14

“Forte desigualdade” na repartição dos rendimentos persistiu em 2012

por Eva Gaspar, in Negócios on-line

Nem todos os indicadores de desigualdade na repartição dos rendimentos se movimentaram no mesmo sentido: em 2012, o coeficiente de Gini até melhorou, mas as disparidades nos extremos, sobretudo entre os 10% mais pobres e os 10% mais ricos, agravaram-se de forma acentuada.

Portugal está a tornar-se uma sociedade ainda mais desigual? Os mais recentes resultados do inquérito às condições de vida e rendimento relativas a 2012, que foram publicados esta segunda-feira, 24 de Março, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), não dão uma resposta inequívoca a esta questão. Se por um lado, o coeficiente de Gini até melhorou, as disparidades nos extremos, entre os mais pobres e os mais ricos, agravaram-se.

O coeficiente de Gini - que tem em conta toda a distribuição dos rendimentos entre todos os grupos populacionais, e não apenas os de menores e maiores recursos – desceu ligeiramente de 34,5% em 2011 para 34,2% em 2012, apontando para uma distribuição menos desigual ao longo de toda a curva de rendimentos.

Contudo, a distância entre o rendimento monetário líquido equivalente dos 20% da população com maiores recursos e dos 20% com mais baixos recursos subiu para 6 em 2012 - ou seja, os 20% dos portugueses mais ricos têm seis vezes mais do que os 20% mais pobres – o que compara com 5,8 em 2011 e 5,7 em 2010.

Olhando mais de perto, agora para o fosso de rendimento entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres, este também subiu, e de forma bem mais acentuada, passando de 10 em 2011 (era de 9,4 em 2010) para 10,7 em 2012. Ou seja, os 10% mais ricos em Portugal têm rendimentos quase 11 vezes superiores aos dos 10% mais pobres.

Cruzando todos estes dados, o INE conclui que, em 2012, se "manteve uma forte desigualdade na distribuição dos rendimentos", tendo a assimetria na distribuição entre os grupos da população com maiores e menores recursos "mantido a tendência de crescimento verificada nos últimos anos".

60% diz não ter dinheiro para uma semana de férias fora da casa

O INE apresenta ainda dados provisórios relativos a 2013 no que respeita à privação material, designadamente a “severa”, que apontam para uma acentuada degradação deste indicador, de 8,6% em 2012 para 10,9% (era de 9% em 2010 e de 8,3% em 2011).

Para esta subida contribuiu essencialmente a percentagem muito elevada (59,8%) de pessoas inquiridas que responderam viver em agregados sem capacidade para pagar uma semana de férias por ano fora de casa.

O segundo maior motivo para a subida deste indicador reside no facto de mais de 40% dos inquiridos (43,2%) viver em agregados sem capacidade para assegurar o pagamento imediato, sem recorrer a empréstimo, de uma despesa inesperada próxima do valor mensal da linha de pobreza, ou seja, de 409 euros. 28,0% das pessoas viviam ainda em agregados sem capacidade para manter a casa adequadamente aquecida.

O indicador de privação material severa corresponde à proporção da população em que se verificam pelo menos três de nove dificuldades, entre as quais figuram ainda não ter televisão a cores, telefone fixo ou telemóvel ou automóvel devido a dificuldades económicas