25.3.14

Perderam-se 95 mil empregos entre criação e encerramento de empresas

Raquel Almeida Correia, in Público on-line

Renovação do tecido empresarial português não chega para recuperar postos de trabalho perdidos. Novos negócios geraram menos 4200 milhões de receitas e recuaram a níveis anteriores a 2004.

Cada uma das 133 mil empresas que abriram portas em 2012 empregava, em média, 1,25 trabalhadores, tendo criado, no total, mais 165 mil postos de trabalho e somado 2500 milhões de euros ao volume global de receitas. Mas o reverso da medalha comprova que o nascimento de novos negócios em Portugal não está a compensar os encerramentos. No mesmo ano, fecharam 190 mil empresas, que tinham ao serviço uma média de 1,37 pessoas e tinham vendas de quase 6800 milhões. Contas feitas, neste vaivém perderam-se 95 mil empregos e mais de 4200 milhões de euros de facturação.

Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) na sexta-feira permitem concluir que a renovação do tecido empresarial português não está a ser plena, apesar de haver muitas empresas a abrir. A começar pelo facto de o número de negócios fechados superar largamente os que são inaugurados. Em 2012, essa relação foi negativa em mais de 57 mil, mesmo depois de uma queda de 7,4% nos encerramentos (a criação também registou uma redução, embora menor, de 3,6%). Analisando apenas as sociedades (o que exclui as empresas em nome individual), o saldo é igualmente deficitário: 26.700 negócios abertos para 31.600 destruídos, o que resultou numa perda líquida de quase cinco mil.

Mas para lá dos números globais dos nascimentos e dos encerramentos, os dados do INE, que abrangem o período entre 2004 e 2012, comprovam que as empresas que estão a aparecer são regra geral mais pequenas, empregando menos pessoas e gerando receitas inferiores do que as que deixam de existir. Esta distância que as separa tem, aliás, vindo a adensar-se nos últimos anos, fruto da crise, com os novos negócios a criar cada vez menos postos de trabalho e a gerar cada vez menos receitas. O mesmo comportamento é visível nas sociedades que fecham as portas, uma parte já em acentuadas dificuldades financeiras.

Em 2012, as 133 mil empresas inauguradas deram emprego a mais de 165 mil pessoas. Um número que perde força perante os postos de trabalho destruídos pelos negócios encerrados: mais de 261 mil. O saldo líquido foi, por isso, negativo em 95 mil, tratando-se de uma melhoria face a 2011 (em que a perda foi superior a 130 mil), mas superando os maus resultados de todos os anos anteriores, até 2008. É que foi precisamente neste ano que o cenário se inverteu por completo, já que, até aí, o saldo era positivo ao nível do emprego, assim como na relação entre negócios criados e fechados. Em 2007, por exemplo, foram inaugurados quase 186 mil e desapareceram apenas 152 mil.

Maior perda na construção
À medida que os anos avançaram e a crise se começou a fazer sentir, foi crescendo também a disparidade nos números. É preciso recuar a 2005 para encontrar uma criação média de emprego tão baixa quanto a de 2012, que foi de 1,25 postos de trabalho por cada nova empresa que nasce. Em 2006, atingiu-se um pico de 1,31 trabalhadores, mas a queda foi sucessiva desde então. Precisamente a tendência inversa à registada nos negócios que fecham portas. Cada um deles tinha, em média, ao serviço 1,37 pessoas em 2012. Apesar de este valor ser inferior ao registado um ano antes, o número vinha subindo desde 2008, tendo chegado a 1,49 em 2011.

No que ao emprego diz respeito, há um sector que se destaca: o da construção, com uma perda líquida de mais de 27 mil postos de trabalho em 2011 (ou seja, 21% do total). Nesta actividade, o número médio de funcionários nas empresas criadas era de 1,9 nesse ano e nas encerradas de 2,3, não existindo dados posteriores. O comércio deu o segundo maior contributo à destruição de empregos, com um saldo negativo de quase 25 mil, seguindo-se a indústria transformadora, com perto de 20 mil.

Em termos geográficos, Lisboa lidera, com uma perda superior a 22 mil postos de trabalho, surgindo depois o Norte (17 mil) e o Centro (14.500), também porque são as regiões que mais emprego geram. No entanto, é na Madeira que se regista a maior disparidade entre as empresas criadas e as encerradas, visto que as primeiras tinham ao serviço 1,1 pessoas e, as segundas, quase 2. Estes dados dizem igualmente respeito a 2011, visto que o INE não divulgou ainda os indicadores mais recentes.