20.6.14

Desde a II Guerra Mundial que não havia tantos refugiados no mundo

Ana Fonseca Pereira, in Público on-line

São 50 milhões as pessoas forçadas a deixar as suas casas. Metade são crianças.

A informação é avançada como um choque, numa tentativa para que conseguir que algo mude num mundo onde “os conflitos cada vez mais se multiplicam” e pouco tem sido feito para os resolver. Pela primeira vez desde a II Guerra Mundial, há mais de 50 milhões de pessoas que foram obrigadas a deixar as suas casas, diz o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Se houvesse um país só para eles seria o 24º mais populoso do mundo, com mais habitantes do que Espanha, Colômbia ou África do Sul.

Ao todo, revela o ACNUR no Dia Mundial do Refugiado, são 51,2 milhões de pessoas – mais seis milhões do que em 2012 – que por causa da guerra, de perseguições várias, da fome ou da falta de água tiveram que deixar para trás as suas vidas, as suas famílias e muitas vezes os seus mortos. Metade são crianças e entre elas há cada vez mais a viajar sozinhas ou com outras crianças – só no ano passado foram registados 25 mil pedidos de asilo de menores não acompanhados.

A Síria, guerra fratricida e sanguinária a que o mundo já se habituou, é a principal responsável pelo “aumento maciço” de pessoas deslocadas, revelam as estatísticas da agência das Nações Unidas.

Até Dezembro, nove milhões de sírios – 40% da população – foram obrigados a fugir aos combates, dos quais quase 2,5 milhões atravessaram a fronteira, passando de deslocados a refugiados (as duas categorias que, a par dos candidatos a asilo, integram a contagem do ACNUR).

Os que entretanto se lhes juntaram terão sido já suficientes para dar à Síria o recorde que durante décadas pertenceu ao Afeganistão, país que continua a ter mais de 2,5 milhões de cidadãos a viver fora das suas fronteiras, a vasta maioria no Paquistão.

Mas à “mais grave crise humanitária da actualidade” juntaram-se no último ano novos conflitos, como o do Sudão do Sul ou o da República Centro Africana, que estão a provocar novos êxodos e a colocar as capacidades de resposta das agências humanitárias no limite.

“Estamos a ser confrontados com os imensos custos de não pormos fim às guerras, de falharmos ou não conseguirmos evitar um conflito”, alertou António Guterres, alto-comissário para os refugiados, destacando que em 2013 se assistiu a um “salto quântico no número de pessoas deslocadas à força”. O antigo primeiro-ministro português fala mesmo num “perigoso défice de paz no mundo”, com a “multiplicação de novas crises, ao mesmo tempo que as velhas crises parecem não terminar”.

Lamentando “a paralisia do Conselho de Segurança em muitas crises cruciais”, Guterres avisa que as agências humanitárias estão a chegar ao limite das suas capacidades e acrescenta: “Não há uma solução humanitária. A solução é política e a solução passa por resolver os conflitos que tem gerado estes níveis dramáticos de deslocados”. “Sem isso, o número alarmante de conflitos e sofrimento maciço que estes números reflectem vai continuar”.