2.6.14

Grupos de entreajuda combatem desemprego: Mais de 2 mil já recorreram ao GEPE

Ana Marcela, in Dinheiro Vivo

É um grupo de entreajuda para a procura ativa de emprego e não um grupo a entreajuda para desempregados. O que faz toda a diferença.

O GEPE - Grupos de Entreajuda na Procura de Emprego, realizou ontem no auditório do Montepio em Lisboa, o seu congresso, sob o tema "Eu vou vencer o desemprego".

Criado em 2012 pelo Instituto Padre António Vieira, o GEPE procurou formar uma rede de apoio aos desempregados, prestando-lhes apoio e, sobretudo, técnicas para a procura de emprego. "As próprias instituições do Estado não tinham capacidade para lidar com pessoas que muitas delas tinham formação superior", diz Cristina Caritas, coordenadora do GEPE.

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Desde então já se formaram pelo país vários grupos de GEPE. Chegaram a estar ativos 111 agrupamentos, agora apenas 68 estão em funcionamento. Lisboa e Porto agrega o maior número, mas há grupos por regiões como Coimbra, Covilhã ou Alentejo.

Em 2013 passaram pelos GEPE cerca de 1500 pessoas, dessas, 28,5% conseguiu uma colocação. Até maio, foram perto de 900, com uma taxa de empregabilidade de 21,4%, relata a coordenadora do grupo de entreajuda."Mérito próprio", frisa Cristina Caritas, já que, reforça, o GEPE não arranja emprego, presta apoio e ferramentas para a sua procura e uma rede de apoio que faz com que o desempregado quebre as rotinas pouco eficazes para encontrar uma colocação.

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A média etária de quem recorre ao GEPE é de 45 anos e são sobretudo mulheres. A razão não é só a taxa de desemprego ser mais elevada junto das mulheres. "Os homens têm mais dificuldade em expor-se e em pedir ajuda", adianta Cristina Caritas, em jeito de justificação.

Conheça alguns casos de desemprego:

Maíra Diniz, 32 anos

Desempregada desde janeiro

Psicóloga de formação, Maíra Diniz (32 anos) está desempregada desde janeiro. "Por opção", apressa-se a dizer. O último emprego foi numa empresa de telemarketing que vendia publicidade para um roteiro turístico. Esteve ai nove meses onde ganhava à comissão. "Houve um mês em que recebi apenas 11 euros", diz. Um pouco abaixo dos 300 euros que em média levava mensalmente para casa. "Era um ambiente de muita pressão e, muitas vezes injustificada", conta. Decidiu sair. Ficou sem direito a subsídio de desemprego. Desde então tem procurado ativamente emprego: em sites, jornais, responde a anúncios... "Nunca recebi uma resposta, tirando uma resposta automática a um email", relata. Vive em Gaia com o filho de 5 anos e marido. O único salário lá em casa. "E volta e meia conto com a ajuda dos meus pais. A minha família é o meu porto de abrigo em qualquer circunstância",diz.

João Augusto, 56 anos

Desempregado desde 2008

O último emprego de João Augusto (56 anos) foi na copa da cozinha de um hotel. Foi há seis anos. Desde 2008 que procura emprego. "Tenho feito cursos de formação de tudo e mais alguma coisa. Umas por sugestão do Centro de Emprego outras por minha iniciativa", diz. Inglês, espanhol, alemão, recursos humanos... "São mais de 300 horas de formação", contabiliza. Respostas a anúncios de emprego e candidaturas espontâneas já lhes perdeu a conta. "Olham apenas para a idade que está no cartão de cidadão e não para as competências das pessoas", diz. Há dois anos perdeu o subsídio de emprego. Em abril, ficou sem o rendimento mínimo de inserção. Deixou de contar com os 178 euros que recebia porque, diz, vive com e irmã e o sobrinho na Mouraria (Lisboa) e eles "têm rendimento". "Já não me sentia confortável com a questão do subsídio, agora esta situação de dependente...", lamenta.

Adriana Dihl Moraes, 45 anos

Desempregada desde 2008

Chegou a Portugal há seis anos para fazer um mestrado em Ciências da Educação na Universidade do Porto. Adriana Dihl Moraes (45 anos) casou, fixou-se em Matosinhos, e procura trabalho desde então. Para trás ficaram 17 anos de trabalho no Brasil na área da educação infantil. Por cá, nem as qualificações nem a experiência a têm ajudado a encontrar uma colocação. "Ter um nível de formação elevado é um dos maiores entraves", diz. Há dois anos chegou a uma fase final de recrutamento. Esteve quase para ser selecionada, mas, em vez disso, conta, disseram-lhe: "se tivesse um sotaque um pouco mais português". Ocupa o tempo com voluntariado - "acaba por substituir o trabalho real" - em diferentes áreas, inclusive no GEPE onde já é uma das animadoras. Foi chamada para formação em como procurar emprego, o que faz no GEPE. "Podiam chamar para áreas em que não temos competências", diz.