20.10.14

A cidade, o emprego e o empreendedorismo dos jovens

in Correio do Minho

Na actualidade Portugal tem a juventude mais qualificada da sua história, com 371.000 alunos matriculados, em 2013, em todos os estabelecimentos de ensino superior (Universidades e Institutos Superiores Politécnicos públicos e privados) e ainda regista 761.650 mil diplomados com o ensino superior na última década. Regista no entanto, uma taxa de desemprego muito elevada, a rondar os 15% da população ativa. O desemprego na população jovem ultrapassou já os 44%.

Portugal possui assim vários problemas que requerem medidas concretas de solução. A economia nacional, por si só, não tem demonstrado capacidade para inverter a situação em que nos encontramos. O tecido empresarial é escaço face às necessidades do país nomeadamente no que concerne ao combate ao desemprego jovem. Muitos jovens seguiram o caminho de seus avós e partiram à procura de construir uma vida nova com emprego noutros países. Muitos jovens decidiram arriscar o empreendedorismo ainda que sem condições favoráveis proporcionais à coragem demonstrada.

É sabido que o sucesso do lançamento de micro-empresas por parte de jovens é diminuto e na sua maioria as micro-empresas não ultrapassa o segundo ano de vida. As estatísticas nacionais nesta matéria são um bom indicador da elevada taxa de insucesso. A nível mundial os indicadores apontam no mesmo sentido. Estes indicadores exigem mais da sociedade, dos decisores e sobretudo das famílias. Não é justo, nem eticamente correto, “empurrar” os jovens para desafios que, sabemos todos, partida serem quase inultrapassáveis.

Exige-se por isso, concertação de vontades, concertação de políticas e seriedade de quem está incumbido de mobilizar os jovens. Um projecto empresarial requer atitude, vontade, acompanhamento e apoio. Requer muito apoio de amigos, família e das organizações públicas que têm a obrigação de desenvolver as políticas de fomento do empreendedorismo.

Em artigos anteriores, transmiti a necessidade de o desemprego necessitar de políticas municipais próprias e de longo alcance. Referi mesmo que um desempregado, começa por ser desempregado num município antes de se tornar um número nacional. Manifestei também que os municípios têm de desenvolver políticas ativas de ataque ao desemprego local para conquistar maior equilíbrio social e maior desenvolvimento.
Lisboa compreendeu que este exército de desempregados qualificados é um desastre civilizacional, ou seja, os jovens qualificados não estão a aplicar as suas competências e as empresas não estão a qualificar-se ao nível dos seus recursos humanos. Sem recursos humanos qualificados, temos menos capacidade, menos inteligência empresarial e menos produtividade.

Muitos mu nicípios, não tiveram o discernimento de olhar o desemprego de forma inteligente e como consequência têm perdido consecutivamente qualidades e serviços. Veja-se o que acontece com o envelhecimento precoce das localidades, arrastadas pela saída dos jovens e pelo envelhecimento acelerado das suas populações.

Muitos municípios lutam hoje para atrair e fixar pessoas. Lisboa é um município que está a perder população e que empobrece se nada fizer para inverter esta realidade. É neste contexto que concentra energias na preparação de programas que pretende integrar em projetos de fixação de população.

O objetivo de aumentar a população é tal, que está a trabalhar na concertação de dois objetivos específicos e convergentes, que se pretende materializar em manter a população existente e atrair nova. Para manter a população atual e atrair nova é essencial criar emprego e sobretudo emprego qualificado, para que a atração de nova população possa também contribuir para qualificar a vida social, económica e política da cidade. Lisboa apresenta uma visão estratégica neste âmbito que designa de “Mais Pessoas”, “Mais Emprego” e “Melhor Cidade”.
Está claro que para conquistar “Mais Pessoas” importa promover e favorecer “Mais Emprego”, só possível se reforçar o tecido económico e posicionar a cidade na economia global. Estes dois compromissos, só se concretizarão se coexistir a “ Melhor Cidade”, que só será possível se melhorar a qualidade de vida, promover a cidadania, valorizar e promover a interculturalidade e melhorar o funcionamento da cidade.
Assumindo este paradigma, como está patente no documento LX-Europa 2020, Lisboa conseguirá atrair novas empresas, o que levará a que mais habitantes escolham a cidade para viver e trabalhar.

Mas como ninguém é feliz apenas se viver para trabalhar, a cidade tem também de garantir condições para a vida familiar. Pretende-se por isso uma cidade ambientalmente responsável e que disponibiliza uma oferta habitacional amiga da evolução familiar, ou seja, amiga dos idosos e amiga das crianças.

Será que nesta matéria Braga, já tem o trabalho de casa preparado ao nível dos objetivos para a cidade na Europa 2020? A empregabilidade e o empreendedorismo não podem por isso estar hermetizados em conceitos “yupis”, devem assentar numa política integrada de fazer cidade com as pessoas. Dignificar e reconhecer o tecido empresarial existente deve ser desde logo um objetivo primordial, que ajude a mobilizar novos paradigmas como o da esperança. Fazer cidade é fazer pessoas felizes, e os jovens são necessários para a construção de um futuro melhor.