25.11.14

É "urgente" aumentar número de trabalhadores seniores em Portugal

in Diário de Notícias

Estudo defende que é necessário aumentar proporção de trabalhadores seniores para não colocar em causa a sustentabilidade económica nacional.

Um estudo hoje divulgado no Porto pela investigadora Ana Barroca aponta a "necessidade urgente" de aumentar a proporção de trabalhadores seniores na população ativa para não colocar em causa a sustentabilidade económica e social nacional.

"Sendo o envelhecimento da população e da força de trabalho uma tendência preocupante na Europa, se nada for feito em 2050 poderá haver apenas uma pessoa empregada", alerta a autora do estudo "Seniores Ativos -- Práticas Inclusivas de Gestão de Recursos Humanos", docente Escola Superior de Estudos Industriais e Gestão (ESEIG), do Instituto Politécnico do Porto.

O estudo indica que, "ao mesmo tempo que a força de trabalho poderá regredir quase 15%" e que, "em Portugal a situação é ainda mais preocupante", pelo que ""a proporção dos trabalhadores seniores na população ativa terá, forçosamente, que aumentar nas próximas décadas, sob pena de estar em causa a sustentabilidade económica e social do país".

"Ousamos pensar no envelhecimento ativo de um ponto de vista contra¬ corrente e tencionamos despertar consciências para o valor, conhecimento e experiência que a idade aporta às organizações e que hoje, e em Portugal, tendemos a desperdiçar", observou Ana Barroca durante a apresentação na Escola Superior de Estudos Industriais e Gestão de Vila do Conde.

Para a docente, é importante o reconhecimento, por parte do governo, da sociedade, das empresas e dos parceiros sociais, da "aceitação implícita de que existe uma nova força de trabalho, a senioridade".

Para a investigadora, esta força "sempre lá esteve" mas nunca se contou com ela "por razões demográficas, económicas e de subvalorização de potencial no mercado de trabalho".

"Portugal só definiu políticas públicas orientadas para o problema do envelhecimento da força de trabalho quando a Europa já estava a reestruturar as reformas dos Estados sociais europeus, influenciadas pela conjuntura estrutural comum. Os próximos anos serão por isso decisivos para se perceber a efetividade das políticas públicas de emprego e o quanto as mesmas serão inclusivas ou não dos trabalhadores seniores", indicou.

O estudo da docente da ESEIG inclui um conjunto de boas práticas, exemplos de empresas nacionais e internacionais que contribuem para a retenção e reintegração de trabalhadores seniores.

"Nesta matéria há um dado importante a reter entre algumas empresas nacionais consideradas mais ativas neste domínio. Os inquéritos realizados sugerem um foco nos trabalhadores seniores como fonte de conhecimento técnico e de identidade da empresa que importa transmitir aos novos colaboradores com o objetivo de perpetuar a cultura organizacional e orientar os todos os colaboradores no sentido dos mesmos objetivos", acrescentou.

Apesar deste reconhecimento, a reintegração de seniores é "insuficiente face à realidade demográfica e laboral" e "o tecido empresarial continua pouco vocacionado para a ação".

De acordo com a docente, "para além da experiência, os pontos fortes dos trabalhadores seniores parecem recair sobre as chamadas soft skills", ou seja, "os trabalhadores seniores têm um compromisso maior com o seu trabalho, estão motivados para aprender, têm uma melhor comunicação verbal, registam menor absentismo, são melhores a racionalizar e têm mais capacidade de compreender a envolvente".

O estudo "visa contribuir para as metas previstas no Programa Nacional de Reformas, mais concretamente na prioridade "Aumentar o Emprego", através do aprofundamento da temática do Envelhecimento Ativo e da promoção da empregabilidade entre os cidadãos seniores".

As recomendações que constam do estudo "Second Career Labour Markets Assessing Challenges -- Advancing Policies", publicado pela Comissão Europeia em 2013, que identifica um conjunto de orientações que os Estados devem prosseguir no sentido da capitalização do potencial dos cidadãos seniores.

Financiado pelo Programa Operacional de Assistência Técnica (POAT), o estudo contou com o apoio técnico e científico de elementos do Instituto do Envelhecimento, da Universidade de Lisboa, do ISCTE e da Associação Portuguesa de Gestão das Pessoas.