17.12.14

Hospitais libertam camas de casos sociais para antecipar surto de gripe mais forte

Romana Borja-Santos, in Público on-line

Plano de resposta à gripe prepara serviços de saúde do país para um tipo de vírus da gripe que pode ser mais agressivo, sobretudo para os idosos e doentes crónicos.

Preparar um plano que possibilite alargar as consultas sem marcação nos centros de saúde, evitar longos tempos de espera nas urgências, libertar camas nos hospitais dando altas também ao fim-de-semana e conseguir articular os casos sociais com a Segurança Social para ter mais vagas no internamento. Estas são algumas das principais medidas do Plano de Prevenção e Resposta para o Outono/Inverno – Infecções Respiratórias, apresentado nesta quarta-feira pela Direcção-Geral da Saúde e pelo Ministério da Saúde. O objectivo é evitar que neste Inverno haja um pico de óbitos associado a uma estirpe de vírus da gripe que vai circular e que é mais agressiva.

“Este é um esforço para diminuir a mortalidade directa por gripe”, resumiu Fernando Leal da Costa, secretário de Estado Adjunto da Saúde, clarificando que a “preocupação de juntar todos os esforços não resulta primariamente de uma análise de risco que é muito incipiente, resulta sim do facto de termos há dois e há três anos picos marcados de mortalidade e morbilidade sazonal no Inverno”. O plano, que deverá ser replicado e adaptado pelas unidades de saúde, sintetiza as boas práticas de higiene e “etiqueta respiratória” e prevê a resposta necessária perante um eventual aumento da actividade gripal.

Ainda assim, Leal da Costa confirmou que uma das três estirpes do vírus da gripe sazonal que mais se prevê que vá circular no hemisfério Norte é o H3N2, que é mais agressivo, sobretudo para os idosos. “Há uma relação directa entre as infecções virais e o risco de pneumonia”, lembrou o governante, apelando a que os profissionais de saúde, os idosos, as pessoas com mais de 60 anos e todos aqueles que estejam nos chamados grupos de risco se vacinem. Os cuidadores de crianças e de idosos são também considerados um grupo prioritário.

Em termos de mortalidade, no último Inverno o relatório do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) indica que não houve nenhum pico de óbitos que se possa atribuir à gripe sazonal. Contudo, nos anos anteriores, em especial em 2011/2012 houve um excesso de mortalidade associada à gripe. Nesse ano circulou precisamente o H3N2. Além disso, Portugal não tem ficado bem na fotografia das doenças respiratórias, sendo o país da União Europeia com as mais elevadas taxas de mortalidade nesta área, nomeadamente por pneumonia, segundo o relatório Portugal – Doenças Respiratórias em Números 2014, recentemente apresentado.

Profissionais de saúde “aquém”
Os dados apresentados por Graça Freitas, subdirectora-geral da Saúde, apontam para que a vacinação das pessoas com mais de 65 anos (para as quais a imunização é gratuita desde há três anos) já chegou a 60% dos utentes, prevendo-se que o valor ainda possa subir. Nos lares a cobertura da vacina já atingiu os 90%. Ao todo, Portugal comprou 1,1 milhões de doses da vacina contra a gripe sazonal, num investimento de quatro milhões de euros, e 900 mil já foram administradas.

A responsável reforçou que as pessoas mais velhas, sobretudo as que estão em lares, são “triplamente frágeis”, porque “são idosas, têm várias doenças e estão num ambiente confinado”. A imunização deve ser feita todos os anos, uma vez que o vírus da gripe sofre muitas mutações e as farmacêuticas todos os anos adaptam a vacina tendo em consideração as recomendações da Organização Mundial de Saúde sobre as estirpes que se prevê que circulem.

O calcanhar de Aquiles, reconheceu Leal da Costa, ainda está na adesão dos profissionais de saúde à vacina contra a gripe, adiantando um número que diz que o faz “corar”: 50%. “A vacinação dos profissionais de saúde é uma obrigação de boa prática mas também uma obrigação ética. Temos a obrigação de proteger a nossa saúde para continuar a desempenhar o que as pessoas esperam de nós”, acrescentou o médico, reforçando o risco a que os doentes são expostos quando os profissionais não se vacinam. “Estamos aquém do que desejaríamos. Estamos a ser eficazes a vacinar os outros e, no entanto, não nos estamos a saber vacinar-nos”, insistiu.

Ainda sobre a preparação de um eventual reforço da capacidade de resposta dos hospitais e centros de saúde, Graça Freitas esclareceu que o objectivo é “adequar a oferta para que os doentes tenham cuidados de qualidade em tempo útil, evitando complicações ou mesmo a morte, porque estamos a falar de uma doença que é subvalorizada. A maior parte dos doentes que não se vacinam não têm medo nenhum da doença ou têm algum receio das reacções adversas à vacinação. Isto é uma inversão da percepção dos riscos pois é uma vacina segura, eficaz e com qualidade”. “Sentimos que há sempre alguma procura de cuidados sazonal com dificuldade na resposta e queremos acautelar isso”, acrescentou Leal da Costa.