21.1.15

Remessas aumentam graças à valorização do franco suíço

por Rafaela Burd Relvas, in Dinheiro Vivo

Depois da abolição da taxa de câmbio mínima do franco suíço face ao euro, a moeda única já está na paridade quase absoluta. Os portugueses aproveitam para enviar remessas.

"É uma verdadeira loucura. Por todo o lado, os portugueses estão a aproveitar o acontecimento para enviar remessas para Portugal. São milhares de euros". Quem o diz é Manuel Beja, membro do Conselho das Comunidades Portuguesas e do Conselho Permanente da Comunidade Portuguesa na Suíça. "Acho que não houve um português que não tenha aproveitado esta situação", afirma ao DN, questionado sobre a corrida aos bancos por parte dos portugueses emigrados na Suíça.

A valorização do franco suíço face ao euro foi uma má notícia para os funcionários que recebem o salário em euros, como diplomatas ou professores. Mas quem recebe na moeda local sai a ganhar. Se, na semana passada, 1000 francos suíços valiam cerca de 800 euros, depois de, na quinta-feira, o Banco Nacional Suíço ter abolido a taxa de câmbio mínima do franco suíço face ao euro, mil francos valem, esta semana, mais de 990 euros. Mais precisamente, um euro já só valia, na terça-feira, 1,00547 francos, isto é, estava na paridade quase absoluta. Porque já compensa, e porque "muitos ainda temem" que o câmbio venha a inverter a tendência, os portugueses estão a enviar mais remessas para Portugal, embora não se possa ainda contabilizar o montante, já que o Banco de Portugal só tem dados disponíveis até outubro de 2014. Nesse mês, as remessas enviadas pelos emigrantes na Suíça ascendiam a 65,83 milhões de euros, acima dos 62 milhões registados em outubro de 2013.

Os bancos confirmam. Isaura Rovisco, responsável de representação da Caixa Geral de Depósitos em Genebra, adiantou à Lusa que "houve um aumento de telefonemas para pedir informações sobre o câmbio e um aumento de pedidos de talões para enviar dinheiro para Portugal". O mesmo aconteceu nas representações comerciais do Millenium BCP e do BPI, que confirmam ter havido uma grande subida de pedidos de talões de envio de dinheiro, não adiantando, porém, uma estimativa do montante já enviado para Portugal.

Para já, "no que diz respeito ao mercado livre cambial, a situação favorece-nos", admite Manuel Beja. "Mas as consequências que poderão advir disto ainda não são conhecidas. Prevê-se uma guerra cambial que vai definir o futuro das pessoas", alerta.

Para as empresas, pelo menos as importadoras, a valorização do franco suíço é favorável. Já as exportadoras, diz Manuel Beja, "estão em pânico" com os negócios que poderão vir a perder, por verem os seus produtos ficarem mais caros para os clientes estrangeiros. A situação será particularmente dramática para a indústria de alta tecnologia, grande exportadora do país, e para o turismo, com os custos para visitar a Suíça a ficarem mais elevados.

O responsável lembra ainda "outra face" desta situação. "Neste momento, o movimento é favorável para a maioria dos emigrantes. Mas as discussões entre sindicatos e organizações patronais já indicam que haverá uma diminuição dos salários e um corte de postos de trabalho. Isso afetará, certamente, muitos portugueses".

O PSD já pediu que se defina uma estratégia a breve prazo e o Governo está, neste momento, a avaliar as opções legais para minimizar os impactos nas remunerações e abonos dos funcionários consulares a trabalharem na Suíça, anunciou ontem o Ministério dos Negócios Estrangeiros.